Blog do Daka

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Como e por que foi feito o primeiro recenseamento de nuvens do Brasil?

Censo de nuvens

Para conseguir prever com precisão eventos extremos, como tempestades, ou simular cenários de impactos das mudanças climáticas, é preciso avançar no conhecimento dos processos físicos que ocorrem no interior das nuvens e descobrir a variação de fatores como o tamanho das gotas de chuva, a proporção das camadas de água e de gelo e o funcionamento das descargas elétricas.

As regiões escolhidas para a pesquisa de campo representam os diferentes regimes de precipitação existentes no Brasil. [Imagem: Luiz A. T. Machado et al. – 10.1175/BAMS-D-13-00084.1]

Este é um dos objetivos de uma equipe de pesquisadores de várias universidades brasileiras e estrangeiras reunidos no “Projeto Chuva”, que realizaram uma série de campanhas para coleta de dados em seis cidades brasileiras – Alcântara (MA), Fortaleza (CE), Belém (PA), São José dos Campos (SP), Santa Maria (RS) e Manaus (AM).

As regiões escolhidas para a pesquisa de campo representam os diferentes regimes de precipitação existentes no Brasil. “É importante fazer essa caracterização regional para que os modelos matemáticos possam fazer previsões em alta resolução, ou seja, em escala de poucos quilômetros,” disse Luiz Augusto Toledo Machado, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Nuvens sem gelo

Para que as medições pudessem ser comparadas usadas como parâmetros nos modelos computacionais, foi utilizado um conjunto comum de instrumentos, incluindo radares de nuvens de dupla polarização.

O radar de dupla polarização, em conjunto com outros instrumentos, envia ondas horizontais e verticais que, por reflexão, indicam o formato dos cristais de gelo e das gotas de chuva, ajudando a elucidar a composição das nuvens e os mecanismos de formação e intensificação das descargas elétricas durante as tempestades. Também foram coletados dados como temperatura, umidade e composição de aerossóis.

Experimentos adicionais específicos foram realizados em cada uma das seis cidades. No caso de Alcântara, o experimento teve como foco o desenvolvimento de algoritmos de estimativa de precipitação para o satélite internacional GPM (Global Precipitation Measurement), lançado em fevereiro de 2014 pela NASA e pela JAXA (Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial).

“Naquela região, o grande desafio é conseguir estimar a precipitação das chamadas nuvens quentes, que não têm cristais de gelo em seu interior. Elas são comuns na região do semiárido nordestino,” explicou Machado.

Por não abrigarem gelo, a chuva dessas nuvens passa despercebida pelos sensores de micro-ondas que equipam os satélites usados normalmente para medir a precipitação, resultando em dados imprecisos. As medições de nuvens quentes feitas por radar em Alcântara, comparadas com as medições feitas por satélite, indicaram que os valores de volume de água estavam subestimados em mais de 50%.

Instrumentos utilizados no censo das nuvens. Em cima: radar, radiômetro de micro-ondas e LIDAR (“radar de laser”). Embaixo: dois pares de disdrômetros e radar de chuva. [Imagem: Projeto Chuva]

SOS Chuva

Em Fortaleza foi testado um sistema de previsão de tempestades em tempo real e de acesso aberto chamado Sistema de Observação de Tempo Severo (SOS Chuva).

“Usamos os dados que estavam sendo coletados pelos radares e os colocamos em tempo real dentro de um sistema de informações geográficas. Dessa forma, é possível fazer previsões para as próximas duas horas. E saber onde chove forte no momento, onde tem relâmpago e como a situação vai se modificar em 20 ou 30 minutos. Também acrescentamos um mapa de alagamento, que permite prever as regiões que podem ficar alagadas caso a água suba um metro, por exemplo,” contou Machado.

Em Belém os pesquisadores usaram uma rede de instrumentos de GPS para estimar a quantidade de água na atmosfera. Também foram lançados balões meteorológicos capazes de voar durante 10 horas e coletar dados da atmosfera. “O objetivo era entender o fluxo de vapor d’água que vem do Oceano Atlântico que forma a chuva na Amazônia,” contou Machado.

Relâmpagos

Na campanha de São José dos Campos, o foco era estudar os relâmpagos e a eletricidade atmosférica. Para isso, foi utilizado um conjunto de redes de detecção de descargas elétricas em parceria com a Agência de Pesquisas Oceânicas e Atmosféricas (NOAA), dos Estados Unidos, e a Agência Européia de Satélites Meteorológicos (Eumetsat).

“Foram coletados dados para desenvolver os algoritmos dos sensores de descarga elétrica dos satélites geoestacionários de terceira geração, que ainda serão lançados pela NOAA e pela Eumetsat nesta década. Outro objetivo era entender como a nuvem vai se modificando antes que ocorra a primeira descarga elétrica, de forma a prever a ocorrência de raios,” contou Machado.

Tempestades mais severas do mundo

Em Santa Maria, em parceria com pesquisadores argentinos, foram testados modelos matemáticos de previsão de eventos extremos. Segundo Machado, a região que abrange o sul do Brasil e o norte da Argentina que ocorrem as tempestades mais severas do mundo.

“Os resultados mostraram que os modelos ainda não são precisos o suficiente para prever com eficácia a ocorrência desses eventos extremos. Em 2017, faremos um novo experimento semelhante, chamado Relâmpago, no norte da Argentina”, contou Machado.

“Foi o primeiro recenseamento de nuvens feito no Brasil. Essas informações servirão de base para testar e desenvolver modelos capazes de descrever em detalhes a formação de nuvens, com alta resolução espacial e temporal”, concluiu o pesquisador.

Bibliografia:
The Chuva Project: How Does Convection Vary across Brazil?
Luiz A. T. Machado, Maria A. F. Silva Dias, Carlos Morales, Gilberto Fisch, Daniel Vila, Rachel Albrecht, Steven J. Goodman, Alan J. P. Calheiros, Thiago Biscaro, Christian Kummerow, Julia Cohen, David Fitzjarrald, Ernani L. Nascimento, Meiry S. Sakamoto, Christopher Cunningham, Jean-Pierre Chaboureau, Walter A. Petersen, David K. Adams, Luca Baldini, Carlos F. Angelis, Luiz F. Sapucci, Paola Salio, Henrique M. J. Barbosa, Eduardo Landulfo, Rodrigo A. F. Souza, Richard J. Blakeslee, Jeffrey Bailey, Saulo Freitas, Wagner F. A. Lima, Ali Tokay
Bulletin of the American Meteorological Society
Vol.: 95, Issue 9
DOI: 10.1175/BAMS-D-13-00084.1

Abraços e beijos!

Dakir Larara


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RS completa 20 dias com temperatura negativa no ano

Via www.metsul.com

Post por

O Rio Grande do Sul teve nesta quarta-feira o 20º dia do ano com registro de temperatura negativa e o segundo neste mês de agosto. Hoje, as mínimas foram mais altas na quase totalidade dos municípios do Rio Grande do Sul pelo ingresso de ar quente de Norte e a presença de vento na madrugada. A exceção ficou por conta de São José dos Ausentes que teve mínima de 3,2ºC abaixo de zero. Isso porque o ar que estava extremamente seco na região com umidade na casa dos 20% ao amanhecer e que chegou a 13% no final da manhã. Por isso, as variações de temperatura entre microclimas locais foram enormes. A estação de Ausentes do Instituto Nacional de Meteorologia, que está instalada sobre um morro, logo com influência do vento trazendo ar mais quente, registrava às 7h da manhã 8,1ºC. No mesmo horário, outra estação meteorológica em Ausentes, em ponto mais baixo no interior do município, tinha 2,1ºC abaixo de zero. Diferença de 10,2ºC.

A quinta-feira deve ter até a presença de sol e nuvens em parte do dia no Centro e Norte do Estado, mas uma frente fria que traz chuva ainda cedo para o Sul e o Oeste provoca aumento de nebulosidade da tarde para a noite com chuva no Centro do Estado e pontos da Metade Norte. Cidades mais ao Norte, próximas da divisa com Santa Catarina, têm menor probabilidade de chuva na quinta. Com tempo ainda mais aberto, a Metade Norte terá um dia ameno enquanto na Metade Sul a temperatura se eleva menos em pela instabilidade, esperando-se queda de temperatura e frio do Centro para o Sul gaúcho no final do dia.


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Granizo transforma praia da Sibéria em cena de filme de guerra

O video começa em uma ensolarada praia na cidade de Novosibirsk, na Sibéria. Temperatura: 41ºC. Depois de 5 segundos,PLANC! um barulho em uma das coberturas que protegem do sol. Era um granizo do tamanho de uma ervilha.

Alguns poucos segundos depois, as risadas iniciais vão diminuindo e a temperatura cai para 21ºC enquanto o tamanho do granizo vai aumentando. Uma amplitude térmica descomunal e absurda, sobretudo em um intervalo de tempo muito pequeno!

De uma hora para a outra o video passa de uma tarde na praia para um filme de terror com pedras de gelo do tamanho de bolas de golf caindo do céu. Duas crianças morreram em consequência desta tempestade (não aparecem no video) e as pessoas que não conseguiram se abrigar contaram que a sensação era de estar sendo metralhado por balas de gelo.

Impressionante….

Fonte: updateordie.com

Abraços

Dakir Larara


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Mobilizando nossa juventude para o tempo e o clima

Segue na íntegra, a menção que a Metsul Meteorologia fez ao Curso de Geografia da Ulbra em sua página, em especial à disciplina de Climatologia que ministro há mais de 10 anos. Abração para todos amigos da Metsul.

Mobilizando nossa juventude para o tempo e o clima

Por Eugênio Hackbart

O dia 23 de março é sempre especial para nós. Em todo mundo é comemorado o Dia Meteorológico Mundial, marcando a fundação em 1950 da Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma agência da ONU. O tema escolhido para este ano é “Mobilizar a juventude para o tempo e o clima”. A escolha não poderia ser mais feliz. Cada vez mais, com o advento da internet e a moderna tecnologia das redes sociais cresce o interesse por Meteorologia na população, sobretudo em camadas mais jovens. Termômetro disso temos diariamente em nossas redes sociais, onde a participação de jovens com colaboração, seja por dados ou imagens, é enorme. Esta nova geração, com o advento da internet, deve ter uma cultura meteorológica muito superior às anteriores. Dificilmente pegar um celular de um adolescente e entre jogos e outros aplicativos não encontrar um de previsão do tempo. O tempo faz parte da vida das pessoas e os jovens estão inseridos neste contexto. Chuva ou sol podem fazer diferença na hora de programar a balada. Ou mesmo o vento na hora de cair no mar para pegar onda. Ou para a tão sonhada viagem de férias. 

Há outro lado na temática e que nos fascina há muito tempo. A maior difusão recente de informação do tempo e clima tem alimentado o interesse pelo ensino universitário, seja em cursos de Meteorologia, Geografia, Agronomia ou Oceanografia. É motivo de orgulho (enquanto MetSul) ouvir, como já ouvimos algumas vezes, de jovens a afirmação que escolheram estudar Meteorologia na faculdade porque aprenderam a gostar de Meteorologia lendo nossos conteúdos publicados desde 2006. É preciso avançar. Este é o espírito. A atmosfera é fascinante demais para não que não nos limitemos a falar se vai ter sol ou chuva, ou quanto teremos de mínima ou máxima numa cidade. A Meteorologia se desdobra em outras muitas faces, que são incríveis, e isso tem chamado a atenção da juventude.

Projeto de responsabilidade social da MetSul de longa data e com uma rica histórica é o “Meteorologia na Escola”. Treinamos os professores da rede pública de ensino de São Leopoldo sobre noções básicas de Meteorologia que são repassadas aos alunos, como incentivo para o estudo da ciência e a formação de uma cultura meteorológica, especialmente em situação de risco. Parte deste trabalho educacional é receber grupos de crianças das escolas na nossa estação meteorológica situada no Morro do Espelho, em São Leopoldo. Piazada como da Escola Municipal de Ensino Fundamental Alberto Pasqualini, acompanhada da professora Sônia Jaqueline de Paula Konzen e da diretora Agatha Gregory, em visita de 2012 (foto acima).

Se é importante com quem já leciona, fundamentar é atuar com quem trabalhará com jovens. Nesse sentido, comemoramos a parceria de longa data com o professor e doutor da disciplina de Climatologia da Ulbra Dakir Larara. As visitas técnicas (fotos acima) dos seus alunos nos permitem aprofundar o debate sobre o entendimento do clima urbano, mudanças climáticas e a relevância do conhecimento meteorológico no ensino fundamental. A juventude é sempre o futuro e para isso devemos plantar sempre boas sementes para que depois possamos colher excelentes frutos. Feliz Dia Meteorológico Mundial a todos !!!

Link com o post na íntegra:

http://www.metsul.com/blog2012/Home/home/567/Mobilizando_nossa_juventude_para_o_tempo_e_o_clima

Abraços e beijos

Dakir Larara


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Primeiras aulas já disponíveis!!

Olá queridos alunos e alunas!!! Bom recomeço de semestre a todos nós…

Seguem as aulas iniciais de algumas disciplinas que ministro. Os arquivos estão em PPT e PDF… Basta clicar para fazer download!

Abraços e beijos!!

Dakir Larara

Dinâmica Física da Terra

Aula 1 – Introdução

Aula 2 e Aula 3 (Dinâmica Geológica)

Apostila da Disciplina

Geografia Física

Aula 1

Texto – Introdução à Geografia Física

Geografia e Sistemas Hídricos

Aula 1

Geografia Política

Aula 1


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Frio nos EUA – Aspectos históricos e implicações no clima local

Mais um EXCELENTE texto dos amigos da MetSul Meteorologia, assinado pelo Mestre e amigo, o meteorologista Eugênio Hackbart, com produção técnica do amigão Alexandre Aguiar,  Diretor de Comunicação e sócio da MetSul.

O texto sintetiza os aspectos históricos e científico/meteorológicos da onda de frio nos EUA e faz uma ponte com o que podemos esperar do nosso inverno de 2014.

Abraços e boa leitura, pois vale muito a pena!!

Segue o texto na íntegra que também está disponível nos site da MetSul: http://www.metsul.com/blog2012

Os Estados Unidos enfrentaram na última semana uma brutal onda de frio. Muito se disse sobre a onda gelada e suas consequência, mas no noticiário geral não se viu profundidade sobre as suas causas, o padrão de circulação atmosférica que a desencadeou e como este episódio se insere na climatologia local e no contexto geral das mudanças climáticas. De início, foi uma expressiva onda de frio que de forma alguma pode ser reduzida. Grandes áreas dos Estados Unidos experimentaram suas menores mínimas em quase duas décadas. Não fazia tamanho frio desde a metade da década de 90 em diversos estados.

A temperatura caiu a 26ºC abaixo de zero na terça (7) na cidade de Detroit, em Michigan. A sensação térmica baixou a 41ºC negativos. Foi o 16º dia mais frio já registrado em toda a história a cidade. Em Saint Louis, no Missouri, a mínima na segunda-feira (6) de 22ºC abaixo de zero foi a mais baixa na cidade desde os 24ºC negativos de 3 de fevereiro de 1996 e a primeira “subzero” (negativa em Fahrenheit ou inferior a -17,7ºC) desde o dia 5 de janeiro de 1999. A máxima de apenas 16,6ºC abaixo de zero foi a menor desde 2 de janeiro de 1994. Em Indianápolis, Indiana, a mínima de 26,1ºC negativos na segunda-feira (6) foi a menor desde o recorde de mínima absoluta de 32,7ºC abaixo de zero no dia 19 de janeiro de 1994.

Em Milwaukee, Wisconsin, a mínima de 25ºC abaixo de zero no dia 7 foi a menor desde os 26,1ºC negativos de 5 de janeiro de 1999. Na Capital Washington, a mínima de 14,4ºC abaixo de zero na terça foi a menor na cidade desde 5 de fevereiro de 1995. Já na cidade de Nova York, a mínima no Central Park de 15ºC negativos foi recorde diário para 7 de janeiro desde o início das medições em 1869, batendo o recorde anterior para a data de 14,4ºC abaixo de zero em 1896.

O frio em Chicago foi extraordinário. A mínima foi de 23,9ºC abaixo de zero no dia 7 na estação oficial do Aeroporto de O’Hare, recorde diário. A máxima no dia foi de 18,3ºC negativos. O frio foi tão extremo na cidade do estado de Illinois que até o escritório local do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos passou a usar em suas redes sociais a expressão “Chiberia”, em alusão à Chicago e Sibéria, o que por óbvio acabou ficando popular a ponto de ganhar as capas dos jornais.

A temperatura ao meio-dia no dia 7 em Chicago era de 25,5ºC negativos, sétima menor já anotada no horário desde o começo das observações meteorológicas em 1871. O recorde ao meio-dia é de 29,4ºC negativos em 10 de janeiro de 1982. O Rio Chicago, que cruza o Loop (Downtown) congelou e grandes blocos de gelo podiam ser vistos às margens do Lago Michigan.

A onda gelada nos Estados Unidos da semana passada fez com que os Grandes Lagos atingissem sua maior cobertura de gelo em duas décadas, de acordo com dados de órgão de monitoramento do Canadá. A cobertura nos Lagos Superior, Michigan, Huron, Erie e Ontário aumentou de 12% para 26% em apenas uma semana, atingindo níveis não observados nesta época do ano desde a grande onda de frio de janeiro de 1994. O Lago Erie atingiu impressionantes 90% de sua extensão congelada.

Interessante é verificar o porquê de ter feito tanto frio. Fenômeno conhecido há décadas pela Meteorologia, o chamado vórtice polar se tornou popular na última semana pela sua frequente citação durante o noticiário da onda de frio nos Estados Unidos. Os americanos foram inundados na mídia pelo “polar vortex” e do dia para a noite termo desconhecido do público se tornou popular. Mas, afinal, o que é esse fenômeno que tanta atenção mereceu durante a cobertura da intensa onda de frio?

É um sistema de baixa pressão (logo ciclônico) persistente e de grande escala em altos níveis da atmosfera que atua nos dois polos do planeta. Enfraquece no verão e fica mais forte no inverno. Não é algo novo que tenha surgido recentemente, não está na superfície, não é visível como as nuvens e não traz perigo para as pessoas, exceto pelo frio extremo ao qual está associado. Às vezes se desprende da região polar (posição mais normal na América do Norte é na Baía de Hudson) e avança para latitudes menores. Foi exatamente o que se deu na semana passada, quando atuou sobre a região dos Grandes Lagos, no Norte dos Estados Unidos e na porção sul do Canadá.

Se o termo vórtice polar é novidade para a esmagadora maioria das pessoas, mesmo nos Estados Unidos, onde a população possui cultura meteorológica acima da média, não é para o leitor da MetSul. O termo já frequentou recentemente nossas análises aqui para o Sul do Brasil (abaixo). Na forte onda de frio que trouxe neve em julho passado para nós, também um vórtice polar foi decisivo para o gelo. Ele deixou a área ao redor do Centro da Antártida, onde costuma atuar, e se aproximou da província meridional argentina da Terra do Fogo, o que proporcionou a forte incursão de ar bastante gelado no Cone Sul.

Por óbvio, este episódio de frio extremo acabou por desencadear uma polêmica enorme na comunidade climática americana. Os aquecimentistas dizendo que é uma prova cabal do aquecimento global e os céticos dizendo que é prova que o aquecimento é uma farsa. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. A ciência ainda não tem exata compreensão que está por trás de comportamentos anômalos de correntes de jato no Hemisfério Norte que levam bolsões de ar extremamente gelado em latitudes médias. A questão da chamada “amplificação ártica” é por demais intrincada. O aquecimento do Ártico, conforme alguns, levaria a eventos mais extremos de frio, mas são os mesmos que dizem que o número de dias de frio extremo diminuiu por conta do aquecimento do planeta. Fato é que eventos de frio extremo parecem estar claramente relacionados a súbitos eventos de aquecimento estratosférico polar e ao comportamento de oscilações como NAO (North Atlantic Oscillation – Oscilação do Atlântico Norte) AO (Artic Oscillation – Oscilação Ártica), no Ártico e no Atlântico Norte, com favorecimento de eventos de frio extremo em suas fases negativas. Veja no mapa abaixo de circulação de vento em altitude na América do Norte da última segunda-feira (6) como o padrão de circulação dá uma grande cavada de Norte para Sul justamente sobre o Meio-Oeste e a Metade Leste dos Estados Unidos, indicando a presença do vórtice polar.

A questão é tão complexa e intrincada que o comportamento meramente das oscilações intrasazonais não responde bem ao que ocorreu recentemente na América do Norte. Quando da sua fase negativa, elas favorecem incursões de ar muito gelado nos Estados Unidos, mas também na Europa Ocidental. Só que enquanto os norte-americanos congelavam, a temperatura se manteve acima da média na maior parte do continente europeu.

O que chama a atenção neste começo de ano no Atlântico Norte é o padrão de circulação de vento em altitude. A corrente de jato está muito ativa e seu posicionamento tem feito que o Oeste da Europa esteja experimentando um inverno por demais tempestuoso. Por conta do jato, o mesmo centro de baixa pressão que atuou no Nordeste dos Estados Unidos entre os dias 2 e 3 de janeiro com nevascas no território americano, cruzou nos dias seguintes o Atlântico, seguindo a corrente de jato, intensificando-se muito e provocando um violento temporal de chuva e vento na Inglaterra e outros países europeus (foto abaixo). É o inverno mais tempestuoso, por exemplo, na Grã Bretanha das últimas duas décadas, de acordo com o Met Office.

Pergunta reiterada nos últimos dias é se o evento de frio extremo nos Estados Unidos é um sinal de que nosso próximo inverno no Rio Grande do Sul será rigoroso. Já se ouviu até opiniões na mídia a respeito, diga-se apressadas. Primeiro, foi um episódio apenas de frio extremo e um evento não conta a história de uma estação toda. Tempo não é clima, é parte dele. Tanto que aqueceu rapidamente depois dos dias gelados nos Estados Unidos. Segundo, as condições oceânicas globais de hoje podem ser muito diferentes no próximo inverno. Terceiro, padrões podem se repetir (teleconexão), mas não existe replay. Aliás, a esmagadora maioria dos modelos de clima (abaixo) sinaliza inverno mais quente que a média no Rio Grande do Sul.

O que chama atenção neste começo de ano e pode ter repercussões em nosso inverno é sim a cobertura de gelo marítimo na Antártida. Esta se encontra em níveis máximos históricos desde o início das medições por satélite em 1979. Temos observado ao longo dos anos uma maior propensão para episódios de frio intenso em anos em que a cobertura de gelo no Polo Sul é muito alta. Por fim, impossível deixar de atestar uma coincidência. Em muitos locais dos Estados Unidos, foi o mais significativo evento de frio desde 1994 e o nosso último inverno no Rio Grande do Sul foi o com mais neve desde 1994. Alguma relação? Tema para uma próxima e instigante pesquisa. (Produção de Alexandre Aguiar com reproduções do NOAA, Earth, Universidade do Maine, MESONET e jornais americanos).

FONTE: http://www.metsul.com/blog2012


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Hiato do aquecimento global gera polêmica no painel do clima em Estocolmo, na Suécia.

Reunido em Estocolmo, na Suécia, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) dilvulgou na sexta-feira (27 de setembro de 2013)  um relatório crucial, mas permeado de polêmicas, sobre o aquecimento global.

Por um lado, há um relativo consenso dos membros do IPCC sobre o impacto da atividade humana no aumento da temperatura global. Segundo o painel, há hoje 95% de certeza de que “a influência humana no clima é responsável por mais da metade dos aumentos médios de temperatura observados entre 1951 e 2010”.

No entanto, a polêmica se intensifica quando a discussão gira em torno da desaceleração do aquecimento, que vem ocorrendo desde 1998, com muitos demandando mais explicações sobre o fenômeno.

Desde 2007, há um crescente foco no fato de que as temperaturas médias globais não terem subido acima do recorde histórico, em 1998.

Hiato, pausa ou reversão da tendência de aquecimento global? Cientistas estão em uma verdadeira batalha na Suécia para definir o que dizer ao mundo sobre o clima. [Imagem: MET Office]

No rascunho, o painel concorda que “a taxa de aquecimento nos últimos 15 anos é mais baixa do que as tendências anteriores.” Essa desaceleração, ou hiato, como o IPCC classifica a reversão na tendência, tem sido usada como argumento para dizer que está errada a “crença científica” de que a emissão de gás carbônico na atmosfera aumenta a temperatura do planeta.

Para alguns, essa conclusão sobre o impacto negativo das emissões de gás carbônico é exagerada. No entanto, a polêmica se dá porque a maioria dos cientistas concorda que o aquecimento tem-se mantido linear nesse período, mas justamente porque a maior parte do calor teria ido para o oceano.

Sendo assim, a superfície terrestre estaria, sim, enfrentando uma pausa no aquecimento, mas porque a energia presa pelos gases do efeito estufa estaria ficando submersa debaixo da superfície do oceano, “transferindo” o aumento de temperaturas.

Mas as tensões se agravam porque os cientistas estão longe de um consenso sobre os mecanismos envolvidos nesse processo – por que o calor teria começado a ir para o oceano.

Cautela

Pesquisadores de todo mundo estão trabalhando para analisar estudos e produzir um documento que represente o estado atual do aquecimento global. No dia 24 de setembro foi divulgado a primeira parte desse amplo relatório, que focou a ciência por trás das mudanças de temperatura na atmosfera, nos oceanos e nos pólos. Novas estimativas foram fornecidas sobre a escala do aquecimento global e seu impacto nos níveis do mar e nas camadas de gelo.

Porém, muitos cientistas ao redor do mundo, que não estão diretamente ligados ao IPCC, como o Dr. Roy Spencer (Professor e Pesquisador da Universidade do Alabama, EUA, e atual Pesquisador Senior da NASA sobre Estudos Climáticos) e a PhD Judith A. Curry (Professora de Ciências Atmosféricas e da Terra, Pesquisadora do Instituto de Tecnologia da Georgia, EUA), discordam completamente da CIÊNCIA que fundamenta as teses produzidas pelo IPCC sobre as mudanças climáticas.

Ao contrário do que a mídia insiste em nos colocar, não existe consenso científico e acadêmico sobre as causas do aquecimento global. E esses cientistas citados acima, como muitos outros ao redor do mundo e até mesmo no Brasil, como o Professor Dr. Luiz Carlos B. MOLION, estão na contra-mão do discurso do IPCC, fazendo esse contra-ponto com muitos argumentos interessantes e que nos fazem refletir.

Fonte: inovacaotecnologica.com.br

Abraços

Dakir Larara


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Estudos brasileiros mostram imprecisão (para menos) em dados do IPCC! E adivinhem… Não foi do INPE…

O Laboratório de Biogeoquímica Ambiental da USP divulgou dois estudos que divergem acentuadamente dos dados padrão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão mundial que estuda as mudanças climáticas globais.

Os agrônomos Arlete Simões Barneze e Gregori Ferrão analisaram as emissões do óxido nitroso (N2O), considerado um dos principais causadores do aquecimento global, apresentando capacidade de aquecimento global cerca de 300 vezes superior ao “famigerado” dióxido de carbono (CO2).

Simões desenvolve sua pesquisa de mestrado orientada pelo professor Carlos Cerri. Os estudos de Ferrão compõem sua tese de doutorado, orientada pela professora Brigitte Feigl.

“Muitas das informações utilizadas pelo IPCC são coletadas e produzidas em regiões de clima temperado. Esse fato produz certa imprecisão em relação à realidade do Brasil, que é um país de clima tropical, em quase sua totalidade”, afirma o professor Carlos Cerri.

No Brasil, a emissão de N2O tem um grande impacto devido, principalmente, às características da pecuária de corte brasileira.

“Ao pastar, o animal aproveita o nitrogênio contido nas plantas como proteína vegetal e converte em proteína animal para o seu desenvolvimento. Porém, essa conversão não é muito eficiente e quase 80% dos compostos nitrogenados ingeridos são eliminados pela urina”, explica Arlete.

Como o Brasil possui um rebanho superior a 200 milhões de cabeças, 40% das emissões de N2O dos animais em pastagens provêm da urina, contra apenas 7% provenientes dos fertilizantes à base de nitrogênio.

E é aqui que a disparidade com os dados do IPCC aparecem, pois, para o Painel sobre Mudanças Climáticas, a emissão do óxido nitroso proveniente da urina bovina é 2% do nitrogênio aplicado no solo.

“Esses valores não refletem a realidade do nosso país, já que esses números ocorrem em regiões de clima temperado e de diferentes sistemas de produção animal como, por exemplo, o confinado. No Brasil, onde 85% dos animais são criados a pasto, determinamos um valor 10 vezes menor do que o indicado pelo IPCC”, elucida Arlete.

A pesquisa de Gregori Ferrão segue na mesma direção ao apontar incoerências nos números do IPCC, que subestimam as emissões do óxido nitroso no que diz respeito aos solos agrícolas, onde a aplicação de fertilizantes nitrogenados, necessários às culturas, é a principal responsável pela formação deste gás.

Internacionalmente, a metodologia mais utilizada e aceita pelos técnicos do Painel sobre Mudanças Climáticas para quantificar os fluxos totais de N2O, em uma determinada área não alagada, baseia-se na alteração dos gases no interior de câmaras instaladas sobre o solo.

“Já existem diversos trabalhos que sugerem que as plantas também são agentes desta dinâmica de fluxos entre o solo e a atmosfera. Porém, esse fator não é contabilizado na quase totalidade das pesquisas existentes”, afirma Gregori.

Os resultados de Ferrão apontam que, ao negligenciar esta via emissora, pode-se estar subestimando em até 20% do fluxo total de N2O emitido por área de cultivo. “Pelo método que criamos, encontramos uma defasagem significativa, o que mostra a importância de aferir e calibrar esses dados”, avalia.

Fonte: inovacaotecnologica.com.br

Dakir Larara


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Agosto de 2013 foi o mais frio em décadas em parte do Estado do RS

Excelente artigo do Prof. Eugênio Hackbart publicado no site da Metsul Meteorologia. Vale a leitura, pois elucida, com muitos dados e informações, os aspectos da climatologia do meu mês (hehehe) desse ano frio.

Por Eugênio Hackbart

Agosto em 2012 foi bizarro pelo calor no Rio Grande do Sul. O agosto mais quente em um século no Estado (leia mais detalhes). Cidades tiveram médias máximas até 6ºC acima do normal, algo verdadeiramente absurdo. Neste ano, o oposto. Gelo ! Encruzilhada do Sul, em agosto do ano passado, teve média máxima 6,2ºC acima da normal histórica, mas neste ano 2,0ºC abaixo da média. Campo Bom terminou agosto de 2012 com desvio positivo nas máximas de 4,9ºC, mas em 2013 o mês fechou com anomalia negativa nas máximas de -1,6ºC. Em Santa Maria, ainda no tocante às médias máximas, teve em agosto de 2012 uma anomalia positiva de 4,5ºC, mas em 2013 esta foi negativa em -1,9ºC. Nas Missões, São Luiz Gonzaga em agosto do ano passado registrou média máxima 3,6ºC acima da média histórica 1961-1990 e neste ano 2,0ºC abaixo. Na Campanha, Bagé apresentou anomalia positiva de 2,7ºC em 2012 e neste ano uma negativa de -3,2ºC nas médias máximas.

Foram 16 dias com marcas à tarde acima de 30ºC em Campo Bom em agosto de 2012. Em 2013, só 4. Santa Maria em agosto do ano passado registrou 7 dias com máximas iguais ou superiores a 30ºC, mas neste ano apenas 1. No tocante às mínimas, Bagé anotou 8 dias com marcas de 10ºC ou menos em agosto de 2012 em sua estação convencional, mas em agosto de 2013 foram 23 ! Na convencional de Porto Alegre, no Jardim Botânico, foram só dois dias de mínimas de um dígito em agosto de 2012. Neste ano, foram 15 ! Detalhe. A menor marca no Jardim Botânico em agosto de 2012 no Jardim Botânico foi de 7,3ºC no dia 6. Este valor é superior à temperatura que se tinha na mesma área na segunda metade da tarde do dia 23 este ano.

A cidade de Santa Maria teve 5 dias de agosto em 2012 com marcas mínimas de um dígito (abaixo de 10ºC), mas nada menos que 19 dias neste ano. No gráfico abaixo do NOAA com as anomalias diárias de temperatura dos últimos 90 dias para a cidade do Centro do Estado nota-se como houve longos períodos de temperatura abaixo a muito abaixo da média em agosto de 2013.

Foi o agosto mais frio em décadas em algumas cidades. Com média mensal composta de 13,1ºC, 2013 teve o agosto mais frio em Campo Bom desde o início dos registros em 1984. Caxias do Sul anotou média mensal de 11,9ºC (0,8ºC abaixo da normal histórica), igualando 2003. Em Bom Jesus, a média de agosto foi 10,7ºC (0,7ºC abaixo), menor para o mês desde 2003. Passo Fundo com média de 12,1ºC (-1,9ºC) e Porto Alegre com 13,8ºC (-1,5ºC) tiveram o agosto mais frio desde 1984, ano em que agosto reservou a neve para a Capital. Santa Maria com média mensal de 13,0ºC (-1,6ºC) e São Luiz Gonzaga com 13,7ºC (-2,2ºC) experimentaram o agosto mais frio desde 1973 ! Encruzilhada com média de 11,9ºC (-0,8ºC em relação à normal), Bagé com 11,0ºC (-2,3ºC) e Santa Vitória com 10,8ºC (-1,2ºC) registraram o agosto mais frio desde 2007, ano de inverno rigoroso que teve frio intenso muito tardio em novembro e a grande nevada em Buenos Aires (maior desde 1918) em julho.

Agosto mais frio em décadas no Estado trouxe também a maior nevada desde julho de 1994 – Foto do Exército Brasileiro

A possibilidade de agosto ser muito frio neste ano estava no nosso terreno de previsão desde o fim do verão e o começo de agosto. Clientes da MetSul eram informados em boletins ainda em abril que em 2013 o oitavo mês do ano poderia ser radicalmente distinto de 2012, considerando a tendência histórica de extremos se inverterem de um ano para outro e ante o padrão que se observava no final do inverno nos Estados Unidos. Em 2012, março, tal como foi agosto para nós, foi histórico pelas enormes anomalias positivas do Centro para o Leste nos Estados Unidos. E, neste ano, deu-se exatamente o contrário com marcas muito abaixo da média na região norte-americana. Já na Inglaterra, março neste ano foi o mais frio desde 1962.

O Oceano Pacífico não foi o único contribuinte dentro do complexo sistema climático para um agosto com muito frio neste ano no Rio Grande do Sul, mas teve impacto bastante relevante, de acordo com a nossa análise. Em 2012, nos três meses antecedentes ao agosto mais quente em um século aqui no Estado, a região do Pacífico Leste esteve todo o tempo com anomalias semanais positivas de temperatura da superfície do mar (TSM) com valores tão altos quanto +1,7ºC na semana de 20 de junho. Já em 2013 ocorreu o contrário. Os três meses antecedentes ao agosto gelado tiveram anomalias de TSM persistentemente muito negativas na mesma área do Pacífico Leste com marcas de até -2,1ºC no final de maio, as maiores anomalias negativas para o período nesta parte do Pacífico em, pelo menos, 20 anos. (Com apoio e agradecimento ao setor de banco de dados do Oitavo Distrito de Meteorologia, produção de Alexandre Aguiar e mapas do Cptec/Inpe e NOAA)

Fonte: http://www.metsul.com/blog2012

Abraços

Dakir Larara


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Por que “The Big Bang” é um nome horrível?

O Universo teve um começo?

Evidências matemáticas e experimentais permitem retroceder a história cósmica e calcular que, quanto mais você volta no tempo, menor o universo deveria ser. Hmmm… Em algum momento esse átomo primordial explodiu e se expandiu e etc… Conhecemos essa teoria como “O Big Bang” (a grande explosão). No vídeo, da série “MinutePhysics”, dá para entender um pouquinho melhor o porque um nome mais adequado seria: “Everywhere Stretch”(algo como: “A Esticada Infinita” – parece nome das sagas da Marvel Comics).

Vale o play e não esqueça de selecionar a lengenda em Português-BR para aqueles que não manjam a língua dos estadunidenses.

Abraços e beijos!

Dakir Larara