Blog do Daka

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Visão crítica: Pesquisadora da USP questiona aquecimento global

Mais e mais pesquisadores criticam as causas do aquecimento global e os cenários futuros projetados por modelos computacionais. Confiram logo abaixo o depoimento da geógrafa Daniela de Souza Onça da USP.

Modelos tomados como realidade

Depois de analisar e comparar a literatura científica sobre o aquecimento global, a geógrafa Daniela de Souza Onça é enfática:

“As hipóteses que afirmam a existência do aquecimento global e sua culpabilidade pelos eventos extremos não são teorias científicas solidamente estabelecidas, e sim saídas de modelos matemáticos do clima.”

A pesquisa Quando o Sol brilha, eles fogem para a sombra!: a ideologia do aquecimento global, foi baseada na comparação entre as pesquisas produzidas pelas duas facções que se formaram, chamadas cética e aquecimentista, especialmente na leitura do quarto relatório do IPCC, de 2007.

Daniela afirma que não foi encontrada, até hoje, nenhuma prova ou evidência de que o aquecimento do planeta esteja sendo provocado pelo homem. Para ela, tudo o que existe são resultados de modelos matemáticos do clima.

“Muitas outras ‘provas’ são evocadas, como derretimento de geleiras, enchentes, furacões e secas. Mas tudo isso faz parte da variabilidade natural do sistema climático. Certamente, ocorreram eventos mais variáveis e intensos do que hoje ao longo de nossa história recente. A única ‘evidência’ são as saídas de modelos, mas quem disse que esses modelos representam adequadamente a realidade, ou que a representam suficientemente bem para sustentarmos o aquecimento global [antropogênico] com tanta segurança?”, questiona.

Para a geógrafa, mesmo os modelos climáticos mais avançados ainda estão muito longe de conseguirem executar uma simulação do clima suficientemente acurada, portanto seus resultados não podem ser tomados como evidência. “Os modelos são baseados no conhecimento dos cientistas, que podem ser tanto insuficientes quanto incorretos”, defende Daniela.

Exclusão social

Daniela igualmente constatou que contrariar a hipótese do aquecimento global é, hoje, considerado um grave pecado contra o progresso da ciência e o futuro da humanidade. Na opinião da geógrafa, diversos problemas sociais e econômicos não são provocados pelas mudanças climáticas, mas sim pela estrutura excludente do sistema capitalista.

“A incidência de malária não é provocada pela elevação das temperaturas globais, mas sim por programas ineficazes ou inexistentes de saúde pública. A escassez de água potável não é provocada pela redução das precipitações, mas sim pela pressão crescente sobre recursos hídricos cada vez menos conservados”, exemplifica.

Em seu estudo, Daniela avalia que “a pobreza e a miséria não são provocadas pelo aquecimento global, mas pela concentração de renda.”

Para a pesquisadora, o sistema capitalista justifica a continuidade e o agravamento da miséria global com o aquecimento global, negando que seja resultado da concentração de renda, da ação de uns poucos conglomerados industriais, da falta de vontade política.

“Assim, sendo todos culpados pelo aquecimento global, somos todos culpados de todas as misérias que nos afligem, e não governos ou empresas”, explica.

Pseudo-ciência

Os dias têm sido ruins para a ortodoxia que se criou em torno do tema. Em meados de Setembro, o Prêmio Nobel de Física Ivar Giaever desligou-se da Sociedade Americana de Física afirmando que os estudos do aquecimento global são pseudo-ciência.

A Sociedade respondeu em uma nota afirmando que isto não era preocupante porque não estava havendo uma debandada e que, portanto, manteria seu compromisso com a conclusão de que o aquecimento global é provocado pelo homem. A própria nota é um sintoma do viés anti-científico que as discussões tomaram, uma vez que a associação não se compromete com uma linha de pesquisa ou nem mesmo com um método de pesquisa, mas com resultados pré-definidos.

Quanto à debandada, a entidade já havia recusado uma revisão na posição sobre o assunto, solicitada por um grupo de 160 físicos, entre os quais o próprio Giaever. Essa intromissão da política na ciência tem verdadeiramente impedido o prosseguimento da liberdade científica tão necessária para aumentar o conhecimento humano – a prova disso é que hoje é praticamente impossível conseguir publicar um artigo que não chegue às conclusões que a comunidade científica votou como consenso.


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Raios cósmicos induzem formação de nuvens e influenciam temperatura na Terra

Físicos da Dinamarca e do Reino Unido demonstraram que os raios cósmicos podem estimular a formação de gotas de água na atmosfera da Terra, conduzindo à formação de nuvens. Segundo os pesquisadores, este é o mais forte indício experimental já obtido de que o Sol influencia o clima da Terra e como ele o faz – alterando o fluxo de raios cósmicos que atinge a superfície da Terra.

As implicações da descoberta são significativas e de grande alcance não apenas científico, mas também político.

Raios cósmicos semeiam nuvens

Ainda se sabe pouco sobre como exatamente o Sol influencia, e em que magnitude, o clima e a temperatura na Terra. A hipótese de Henrik Svensmark, da Universidade Técnica da Dinamarca, em Copenhague, é a de que os raios cósmicos representam um papel importante nesse mecanismo.

Segundo Svensmark e seus colegas, os raios cósmicos “semeiam” as nuvens de baixa altitude, que refletem uma parte da radiação solar de volta para o espaço. A quantidade de raios cósmicos que atingem a Terra, por sua vez, depende da intensidade do campo magnético solar. Quando esse campo magnético é mais forte – o que se evidencia pela presença de mais manchas solares -, mais raios são desviados, menos nuvens se formam e, assim, a Terra se aquece. Se o contrário acontecer no Sol, a temperatura na Terra cai.

O que os cientistas fizeram agora foi demonstrar experimentalmente que um fluxo de raios cósmicos atua positivamente na formação de nuvens.

Simulação dos raios cósmicos

Para se transformar em gotículas e formar as nuvens, o vapor de água na atmosfera precisa de uma alguma superfície em torno da qual se condensar. Esse papel é desempenhado principalmente pelos chamados aerossóis, partículas líquidas ou sólidas presentes no ar.

 Os pesquisadores agora demonstraram que os raios cósmicos também desempenham esse papel, ionizando moléculas na atmosfera, moléculas estas que atraem o vapor de água, agregando-o até formar uma estrutura grande o suficiente para funcionar como superfície de condensação.

O experimento consiste em um recipiente com uma mistura de gases representando uma atmosfera típica da Terra – oxigênio, nitrogênio, vapor de água, ozônio, dióxido de enxofre etc. Uma fonte de luz ultravioleta gerou as moléculas de ácido sulfúrico, que servem como “semente” às quais as moléculas de água podem se aglomerar.

Os raios cósmicos foram simulados por um feixe de elétrons de 580 MeV. O grupo verificou que o feixe de elétrons levou a um aumento substancial na quantidade de aglomerados de moléculas. Segundo os pesquisadores, os elétrons, assim como os raios cósmicos na atmosfera real, ionizam as moléculas no ar, resultando na aglomeração das moléculas de água.

Divergências climáticas

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) afirma que a maior parte do aquecimento registrado no clima da Terra nos últimos 50 anos deve-se a emissões de gases de efeito estufa gerados pela atividade humana.

Mas outros cientistas argumentam que o Sol tem uma influência significativa nas mudanças do clima da Terra porque, ao longo dos últimos séculos, tem havido uma estreita correlação entre as temperaturas globais e a atividade solar – embora essa correlação pareça ter sido interrompida ao longo dos últimos 40 anos.

Sem dados suficientes para uma conclusão mais precisa, o debate científico logo deu lugar a algo mais parecido com um debate religioso – os grupos se dividiram e estabeleceram uma fronteira intransponível entre o chamado “grupo do consenso” e o “grupo dos céticos”.

O “grupo do consenso” saiu vencedor por larga margem numérica entre os cientistas, e estabeleceu uma ortodoxia que tem resistido firmemente.

A nova descoberta vem dar força ao grupo daqueles que exigem um comportamento mais científico do IPCC, largamente acusado de ser mais político do que científico em suas conclusões.

 Nos modelos do IPCC, as variações do brilho solar tiveram um impacto sobre o aquecimento global de apenas alguns centésimos de grau ao longo dos últimos 150 anos.

Bibliografia:Cosmic ray decreases affect atmospheric aerosols and clouds
Henrik Svensmark, Torsten Bondo, Jacob Svensmark
Geophysical Research Letters
Vol.: 36, L15101
DOI: 10.1029/2009GL038429


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Nova Classificação Climática para o Rio Grande do Sul saiu do forno – por Maíra Rossato

Recentemente aprovada com louvor no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRGS, a tese intitulada “Os Climas do Rio Grande do Sul: variabilidade, tendências e tipologia” de autoria de Maíra Suertegaray Rossato apresenta, através de dados atualizados (1970-2007), o quadro climático do Estado a partir de uma nova classificação para os climas do RS.

Esta tese centrou-se no estudo analítico do clima do estado do Rio Grande do Sul (Brasil), com foco na variabilidade (espaço-temporal) dos elementos climáticos-meteorológicos e na abordagem de suas tendências. Associa-se a esta análise, o reconhecimento das variabilidades climáticas em escala regional para o período de 1931-2007, através da comparação das médias do período analisado com as normais climatológicas de 1931-1960 e 1961-1990.

A partir desta construção, busca-se a atualização do conhecimento da climatologia relativa ao Rio Grande do Sul, sintetizada a partir da elaboração de uma classificação climática que incorpora o uso de novas metodologias e tecnologias.

O método de classificação climática desenvolvido contemplou análises qualitativas e quantitativas, tendo por base a integração entre os elementos do clima e a circulação atmosférica de superfície (dinâmica das massas de ar), articulados a técnicas estatísticas e geoestatísticas.

Comparando as normais climatológicas do estado

A análise da variabilidade dos elementos climáticos para o período entre 1931 e 2007 indica que as temperaturas mínimas se elevaram em muitos lugares do RS, levando a uma redução da amplitude térmica. Com isso, revela-se o aumento das temperaturas médias em até 0,5oC, particularmente em algumas localidades da metade centro-norte do estado, sendo este aumento maior no período de 1970-2007.

Percebe um aumento da precipitação até a normal de 1961-1990, mas em muitas partes do RS, como na porção oeste do estado, a média seguinte aponta redução nos totais mensais e anuais. Localidades situadas no leste e extremo norte do estado registraram elevação dos totais das chuvas, principalmente na primavera e verão no período de 1970-2007.

A variabilidade identificada entre as médias relacionam-se com alguns dos ciclos ligados a eventos de macroescala encontrados nas séries temporais. A variabilidade dos totais pluviométricos registrados na comparação de médias pode ser explicada por ciclos, como os de ENOS, por exemplo. Os ciclos decenais e quinzenais que foram identificados em várias séries, principalmente nas de temperatura, de insolação e de pressão atmosférica podem explicar a variabilidade das médias, embora não sejam explicitados nos seus valores finais.

Tendências para a temperatura e precipitação

A análise de tendências lineares e polinomiais indicou tendências estatisticamente pouco importantes, uma vez que os coeficientes de correlação encontrados variam de fracos a moderados.

De forma geral, nota-se reduzida tendência de diminuição da amplitude entre as temperaturas máximas e mínimas em localidades situadas em todos os compartimentos geomorfológicos do RS. Essa redução se explica, principalmente, pela maior elevação das mínimas em relação às máximas, como no sudoeste, centro e nordeste do Estado, indicando uma pequena, mas possível diminuição dos núcleos frios do estado.

Em relação à precipitação e umidade, não foram registrados aumentos importantes nos totais pluviométricos mensais e nem nos dias de precipitação mensais para os 38 anos estudados. Os totais pluviométricos anuais, contudo, ratificaram, através da tendência linear, a possível elevação dos valores de chuva ao ano com tendência de concentração. Isto porque os pontos em que se identificou maior tendência de aumento localizavam-se no setor centro-leste da Depressão Central estendendo-se sobre o Planalto Basáltico, Escudo Sul-riograndense e Litoral.

A análise da tendência polinomial, entretanto, aponta pontos do estado em que há redução nos totais anuais a partir do final dos anos de 1990 e início de 2000. Localidades na Depressão Central, no norte e centro do Planalto Basáltico, além do extremo sul do Litoral registram esse decréscimo. Os municípios do leste do Planalto Basáltico, do Escudo Sul-riograndense e do Litoral apresentaram aumento de seus totais anuais a partir dos anos de 1990.

Estas distribuições diferenciadas acentuam características já identificadas em algumas regiões de falta ou de excesso de umidade, intensificando diferenças regionais através da concentração de precipitação.

Os Climas do Rio Grande do Sul

Com relação ao regime climático, pode-se dizer que os sistemas polares são os grandes dinamizadores dos climas do estado, em interação com os sistemas tropicais. Entretanto, é a partir da relação destes com os fatores geográficos locais e regionais, que se define a variabilidade espacial dos elementos do clima. A gênese das chuvas está, principalmente, associada aos sistemas frontais.

Com relação à tipologia climática, o estado do Rio Grande do Sul situa-se em área de domínio do Clima subtropical, subdividido em quatro tipos principais (clique na figura abaixo para ampliar!!):

Subtropical I – Pouco Úmido (Subtropical Ia – Pouco Úmido com Inverno Frio e Verão Fresco, e Subtropical Ib – Pouco Úmido com Inverno Frio e Verão Quente);

Subtropical II: Medianamente Úmido com Variação Longitudinal das Temperaturas Médias;

Subtropical III: Úmido com Variação Longitudinal das Temperaturas Médias; e

Subtropical IV – Muito Úmido (Subtropical IVa – Muito Úmido com Inverno Fresco e Verão Quente, e Subtropical IVb – Muito Úmido com Inverno Frio e Verão Fresco).

O Rio Grande do Sul apresenta regiões climaticamente bem diferenciadas, evidenciando certa heterogeneidade, ao contrário de grande parte das classificações climáticas mais conhecidas do estado.

Esse mapeamento climático revela dados interessantes, na medida em que evidencia distribuição espacial desigual das chuvas, permitindo observar, por exemplo, uma menor umidade em parte da região denominada Campanha no RS (reverso da Cuesta do Haedo), resultado da distribuição irregular que em determinados anos se releva em períodos com anomalias negativas de precipitação constatados pela população e amplamente divulgados pelos meios de comunicação.

Da mesma forma este processo se revela importante na decifração das características do clima do sul do estado permitindo uma melhor compreensão das anomalias negativas da precipitação na região de Bagé e seu entorno, no Escudo Sul-riograndense. Anomalias que se revelam também no litoral sul e que tem sua gênese associada à influência da corrente fria das Malvinas que promove mais estabilidade.

Outro ponto significativo é o papel do processo de urbanização do leste do estado revelador de uma área de temperaturas médias mais altas, mesmo tendo esta área influência da maritimidade.

É importante mencionar que esta tese traz como resultado uma classificação climática em escala regional para um período recente que inovou ao incluir na metodologia analises quantitativas e qualitativas em diferentes escalas temporais e que procura apresentar de forma simples e direta as características importantes de diferentes porções do estado. Isso fez com que os quatro tipos e dois subtipos climáticos sejam bem representativos do RS.


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Comitê Propõe Mudanças Gerenciais e Científicas no IPCC

Reforma fundamental

O IPCC precisa reformar fundamentalmente sua estrutura gerencial e fortalecer seus procedimentos para que possa lidar com avaliações climáticas cada vez mais complexas, bem como com uma intensa demanda pública a respeito dos efeitos das mudanças climáticas globais.

A conclusão é de um comitê independente de especialistas reunido pelo InterAcademy Council (IAC), organização que reúne academias de ciências de diversos países, e está em relatório entregue nesta segunda-feira (30/8), na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e ao presidente do conselho do IPCC, Rajendra Pachauri.

O relatório, intitulado Climate change assessments: review of the processes and procedures of the IPCC, foi produzido por 12 especialistas coordenados pelo economista Harold Shapiro, ex-reitor das universidades Princeton e de Michigan, nos Estados Unidos.

Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), integra o comitê indicado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), uma das academias de ciência que aprovaram o relatório.

Controvérsias científicas

Como a análise do comitê de especialistas convocado pelo IAC foi solicitada em parte por problemas no mais recente relatório do IPCC, o comitê também examinou os processos de revisão adotados pelo painel.

A conclusão é que o processo é eficaz, mas o comitê sugere que os procedimentos de revisão empregados atualmente sejam fortalecidos de modo a minimizar o número de erros. Para isso, o IPCC deveria encorajar seus editores a exercer sua autoridade de modo que todas as conclusões fossem consideradas adequadamente.

Os editores também deveriam garantir que os relatórios abordem controvérsias genuínas e que a consideração devida seja dada a pontos de vista conflitantes e propriamente bem documentados. Os autores principais deveriam documentar explicitamente que a mais completa gama de abordagens científicas foi considerada.

O uso da chamada “literatura cinza” (de trabalhos científicos não publicados ou não revisados por pares) tem sido bastante discutido, mas a análise do IAC destaca que frequentemente tais fontes de dados e informações são relevantes e apropriadas para utilização nos relatórios do IPCC.

“O IPCC já tem uma norma sobre uso criterioso de fontes de informação sem revisão por pares. O relatório do comitê de revisão confirma que esse tipo de fonte pode ser usado, desde que sejam seguidas as normas estritas já existentes e que protegem a qualidade científica das conclusões”, disse Brito Cruz.

Os problemas ocorrem quando os autores não seguem as normas do painel para a avaliação de tais fontes ou porque tais normas são muito vagas. O comitê recomenda que as normas sejam revisadas de modo a se tornarem mais claras e específicas, principalmente na orientação de que dados do tipo sejam destacados nos relatórios.

Definição das incertezas

O comitê também sugere que os três grupos de trabalho do IPCC sejam mais consistentes nos momentos de caracterizar as incertezas. No relatório de 2007, o comitê identificou que cada grupo usou uma variação diferente das normas do painel sobre incertezas e que as próprias normas não foram sempre seguidas.

O relatório do grupo de trabalho 2, por exemplo, continha conclusões consideradas como de “alta confiança”, mas para as quais havia pouca evidência. O comitê recomenda que os grupos de trabalho descrevam a quantidade de evidência disponível bem como as discordâncias entre os especialistas.

“O relatório do comitê sugere atenção para levar em consideração as diferentes opiniões baseadas em fatos com base científica e para considerar atentamente o uso da literatura científica revisada por pares em línguas que não a inglesa. A intenção é tornar o relatório o mais abrangente possível”, disse Brito Cruz.

A demora do IPCC em responder a críticas sobre as conclusões de seu relatório de 2007 faz da comunicação um assunto crítico para o painel, de acordo com o comitê de revisão.

Os 12 especialistas recomendam que o IPCC complete e implemente a estratégia de comunicação que está em desenvolvimento. Essa estratégia deve se pautar na transparência e incluir um plano de contingência para respostas rápidas e eficazes em momentos de crise.

Segundo o comitê, como o escrutínio intenso por parte dos responsáveis pela formação de políticas públicas, bem como do público em geral, deverá continuar, o IPCC precisa ser “o mais transparente possível no detalhamento de seus processos, particularmente nos seus critérios de seleção de participantes e no tipo de informação científica e técnica utilizado”, disse Shapiro.

Gerente do tempo

“O comitê fez recomendações sobre a governança do IPCC, funções e limites dos mandatos de dirigentes do painel e enfatizou o debate e a valorização de ideias contraditórias. A análise feita trata de como lidar com as incertezas e recomenda cuidado com a avaliação de impactos”, disse Brito Cruz.

A análise do IAC faz diversas recomendações para que o IPCC melhore sua estrutura gerencial, entre as quais estabelecer um comitê executivo que atue em nome do painel e garanta a manutenção de sua capacidade de tomar decisões.

“Para aumentar sua credibilidade e a independência, esse comitê executivo deveria incluir especialistas externos, não ligados ao IPCC e nem mesmo à comunidade mundial dos cientistas climáticos”, disse Shapiro.

O IPCC também deveria ter um diretor executivo que liderasse o secretariado do painel. Esse diretor seria o responsável pelas operações diárias e falaria em nome do IPCC. Segundo a análise do IAC, o atual secretário do IPCC não tem os níveis de autonomia e responsabilidade equivalentes aos dos diretores executivos de outras organizações.

Os mandatos do presidente do conselho e do novo diretor executivo também deveriam ser menores do que os dos atuais coordenadores do IPCC, limitando-se ao período de produção e divulgação de cada relatório, de modo a manter a variedade de perspectivas e o frescor das abordagens em cada relatório – o mandato atual do presidente do conselho é de até 12 anos.

A revisão do IPCC foi solicitada pelas Nações Unidas. O comitê revisou os procedimentos empregados pelo painel na preparação de seus relatórios. Entre os assuntos analisados estão o controle e a qualidade dos dados utilizados e a forma como os relatórios lidaram com diferentes pontos de vista científicos.

“Operar sob o foco do microscópio do público da forma como o IPCC faz exige liderança firme, a participação contínua e entusiástica de cientistas destacados, capacidade de adaptação e um comprometimento com a transparência”, disse Shapiro.

O IPCC foi estabelecido em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente com o objetivo de auxiliar na formulação de políticas públicas a partir da divulgação de relatórios sobre os aspectos científicos conhecidos sobre as mudanças climáticas, os impactos globais e regionais dessas mudanças e as alternativas de adaptação e mitigação.

Conflitos de interesse

Após a divulgação de seu primeiro relatório, em 1990, o IPCC passou a ganhar a atenção e o respeito do público, a ponto de ter sido premiado com o Nobel da Paz de 2007. No entanto, com a divulgação do relatório de 2007, o painel de especialistas passou a ser alvo de questionamentos a respeito de suas conclusões.

O crescente debate público sobre a exatidão dos relatórios levou a ONU a solicitar ao IAC uma revisão do IPCC e recomendações sobre como fortalecer os procedimentos e processos do painel para os próximos relatórios.

A análise do IAC também recomenda que o IPCC adote uma política rigorosa para evitar conflitos de interesse entre as lideranças do painel, autores, revisores e responsáveis pela publicação dos relatórios.

Para a produção de sua análise, o comitê de especialistas consultou não apenas o próprio IPCC, mas também pesquisadores de diversos países que participaram na produção dos relatórios, bem como cientistas que criticaram os procedimentos adotados pelo painel em suas conclusões.

O público em geral participou da avaliação, por meio de questionários publicados na internet. O comitê também realizou diversas reuniões, inclusive no Brasil, para chegar às suas considerações.

O relatório do comitê do IAC e mais informações podem ser lidos em: http://reviewipcc.interacademycouncil.net.

Fonte: http://www.inovacaotecnologica.com.br


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MIT Questiona Modelos Climáticos do IPCC

Papel dos aerossóis

Novas pesquisas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) mostram que os aerossóis não apenas esfriam, mas também aquecem o planeta – uma descoberta que pode ofuscar a validade dos modelos de mudança climática.

Exatamente o quanto a Terra se tornará mais quente como resultado das emissões de gases de efeito de estufa – e o quanto ela se aqueceu desde os tempos pré-industriais – são alvos de debates intensos.

Em seu relatório de 2007, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) órgão formado pela ONU (Organização das Nações Unidas) para avaliar as mudanças climáticas, afirma que a temperatura da superfície do planeta subirá entre 1,8 e 4,0 graus Celsius até 2100, com uma melhor estimativa situando-se entre 1,1 e 6,4 graus, compreendendo os dois cenários avaliados.

Tendência para o aquecimento

No entanto, os modelos computadorizados do IPCC têm uma tendência de superestimar o aquecimento: se os modelos do IPCC estivessem corretos, hoje o planeta deveria ser mais quente do que é de fato.

O IPCC atribui a discrepância aos aerossóis – partículas microscópicas na atmosfera que são criadas tanto naturalmente (poeira soprada pelos ventos do deserto) como pela atividade humana (gotículas de líquido produzidos pela queima de combustíveis).

Como os aerossóis ajudam as gotículas das nuvens a se transformar em partículas de gelo, que refletem a luz solar de volta para o espaço, eles ajudam a esfriar a Terra e, possivelmente, reduzir o aquecimento causado pelas emissões.

Mas Richard Lindzen, professor de meteorologia do MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos, está entre aqueles que questionam a precisão dos modelos do IPCC, criticando sobretudo o argumento dos aerossóis.

Em um artigo publicado na revista Proceedings of National Academy of Sciences, Lindzen e seu colega Choi Yong-Sang sugerem que os aerossóis não apenas refrigeram o sistema Terra-atmosfera – o sistema pelo qual a atmosfera e os oceanos interagem e afetam o clima global -, mas também aquecem esse sistema.

Problema dos aerossóis

Ao descrever os potenciais efeitos antagônicos dos aerossóis a pesquisa questiona os modelos do IPCC porque, se os aerossóis de fato aquecem o planeta, eles não podem ser usados como explicação para um pretenso resfriamento real em relação ao aquecimento que os modelos estipulam. Os modelos do IPCC dizem que a Terra deveria ser mais quente do que é na realidade hoje – a explicação, diz o IPCC, deve-se aos aerossóis, que esfriam o planeta. A pesquisa do MIT afirma que os aerossóis na verdade aquecem o planeta, o que deixa os modelos do IPCC com problemas em má situação.

“Os modelos climáticos atuais geralmente superestimam o aquecimento atual e assumem que o aquecimento excessivo é cancelado pelos aerossóis”, dizem os pesquisadores em seu artigo. “[Nossa pesquisa] oferece um exemplo potencialmente importante de que o efeito secundário é de aquecimento, reduzindo assim a capacidade dos aerossóis para compensar o aquecimento excessivo nos modelos atuais.” Ou seja, o grau em que os aerossóis podem compensar as superestimativas dos modelos de aquecimento permanece em aberto, sugere a pesquisa.

Thomas Stocker, copresidente do Grupo de Trabalho I do IPCC, que está examinando os aspectos científicos físicos do sistema climático e das alterações climáticas, não quis comentar o estudo, mas disse que a pesquisa de Lindzen e Choi é parte relevante do trabalho revisado pelos pares que o grupo irá avaliar no seu Quinto Relatório de Avaliação das mudanças climáticas, a ser publicado em 2013.

Aerossóis e a formação das nuvens

Em sua pesquisa, Lindzen e Choi analisaram dados sobre a formação das nuvens e aerossóis de poeira – pequenas partículas de areia e silicato na atmosfera – que foram coletados pelo satélite climático CALIPSO, de junho de 2006 a maio de 2007.

As análises revelaram que havia cerca de 20 por cento menos partículas de nuvem “super-resfriadas” – gotículas que são uma mistura de água e gelo, mas refletem mais luz solar do que o gelo – em regiões onde os aerossóis de poeira estavam presentes. Essa diferença, sugerem Lindzen e Choi, poderia aquecer a atmosfera nessas regiões.

Segundo os pesquisadores, a redução nas partículas super-resfriadas ocorre quando os aerossóis viajam para uma camada da atmosfera onde a temperatura é de cerca de menos 20 graus Celsius, e “efetivamente matam” as gotículas super-resfriadas das nuvens, fazendo-as formar gelo. Poucas gotículas de nuvem super-resfriadas significa que as nuvens refletem menos luz solar, o que pode ter um efeito de aquecimento no clima.

Este efeito, acreditam os pesquisadores, deve ser incorporado nos modelos de mudança climática. “O IPCC assume que todos os efeitos secundários dos aerossóis sejam no aumento da reflexividade, o que tem deixado de fora um fator muito importante que pode levar ao efeito oposto”, diz Lindzen.

Incertezas da sensibilidade climática

O trabalho é importante para o debate sobre o aquecimento global porque lança luz sobre as incertezas da sensibilidade climática, que é o termo que o IPCC usa para descrever as mudanças que uma duplicação do dióxido de carbono teria sobre as temperaturas médias globais (o relatório do IPCC de 2007 prevê que a mudança deve ser entre 2 e 4,5 graus Celsius até o final do século, com uma melhor estimativa de cerca de 3 graus Celsius).

De acordo com o climatologista Trude Storelvmo, da Universidade de Yale, “o efeito dos aerossóis sobre o clima, em especial através da sua influência sobre as nuvens, representa atualmente a força mais incerta da mudança climática”.

Embora os modelos do IPCC assumam que os aerossóis resfriam o sistema Terra-atmosfera, a cientista de Yale adverte que “a menos que possamos quantificar este suposto resfriamento dos aerossóis, contrariando o aquecimento devido ao aumento dos gases estufa, não podemos dizer qual é a sensibilidade climática do sistema Terra-atmosfera.”

Como os dados dos satélites podem ser limitados, ela sugere que pesquisas futuras devem incluir medições dos aerossóis e propriedades das nuvens coletadas por instrumentos a bordo de aviões voando na atmosfera superior. Ela acha que esta combinação poderia ajudar a resolver uma questão que permanece sem resposta no artigo: por que poucas nuvens super-resfriadas foram detectadas sobre a América do Sul, ainda que o satélite não tenha detectado poeira ou aerossóis de carbono sobre aquela região.

Lindzen concorda que os cientistas do clima não podem se basear exclusivamente nas técnicas de sensoriamento remoto para obter “dados sólidos e irrefutáveis” sobre os aerossóis e as nuvens. Mesmo assim, ele está ansioso pelo lançamento de satélites e instrumentos melhores, para que ele e seus colegas possam reunir o máximo de dados possível sobre como as nuvens evoluem “de forma que possamos apontar melhor o que os aerossóis fazem.”

Até que os cientistas descubram a peça que falta no quebra-cabeças da mudança climática, será difícil prever os efeitos do aquecimento no futuro.

Fonte: Inovação Tecnológica.

Pois é… Mais lenha na fogueira na temática sobre as mudanças climáticas, hehehe!