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Barcelona, Santos e o “elo perdido” do futebol brasileiro

Não poderia deixar de tecer algumas singelas reflexões sobre o evento futebolístico deste fim de ano, a final do Mundial Interclubes FIFA 2011 entre Santos Vs. Barcelona. No texto que segue, tem de tudo um pouco: crítica geoecômica, política e  claro, futebol. Espero que todos vocês leiam e façam a crítica que sempre é bem-vinda. Então lá vai…

Nada poderia ter sido melhor para o futebol brasileiro do que o humilhante massacre do Barcelona sobre o Santos. Não que este Barça não venha fazendo isso por aí, contra qualquer um, em qualquer lugar. Mas no caso específico deste jogo final do Mundial FIFA, o mesmo sentimento generalizado, unânime tomou conta do país: em algum lugar do passado, em algum momento, perdemos o passo, a mão, a bola… A nossa maionese desandou. O tiro de misericórdia, para não deixar dúvidas sobre a necessidade de uma reflexão profunda, veio na coletiva do Guardiola, técnico do time catalão: “O que tentamos fazer é tocar a bola o mais rápido possível. Na verdade, é o que o Brasil sempre fez, segundo me contavam meus pais e meus avós.” Essas frases, ao menos pra mim, foram devastadoras!!! É preciso entender e traduzir as palavras do treinador: no lugar de provocar, tripudiar, escolheu a elegância habitual quase em tom de pedido, súplica de amante do futebol para que o Brasil retome suas origens. Foi isso que Guardiola fez: um pedido de um amante do futebol, que se dói com esse Brasil do pragmatismo futebolístico e, porque não dizer, da sociedade também.

Coisa para bom entendedor, daqueles para quem meia palavra basta. No caso, disse com todas as letras!! Provavelmente, desperdiçaremos a imensa chance para a reflexão. As palavras de Mano Menezes em seu blog pós-jogo indicam isso, e  falarei dela na sequência. Alguns breves pitacos em busca desse “elo perdido” do futebol brasileiro se fazem necessários. Coisas de dentro e de fora do campo.

Em primeiro lugar, é preciso entender o que aconteceu, onde e no que perdemos o tal elo. Naquele exato momento em que se trocou a posse de bola, o toque envolvente do Brasil (agora do Barcelona e da Espanha) pela correria, pela obsessão do tal contra-ataque, pela bola parada, pelos duzentos zagueiros e pelos volantes quebradores de bola em detrimento dos que sabem sair pro jogo. Quando deixamos de fabricar o meias, pegando todo guri habilidoso da base e jogando pra frente ou estimulando que para a posição de volante, o melhor é não sair jogando, mas sim ficar fixo e indo no máximo até a linha intermediária.

Enquanto isso, lá fora, estava em gestação o futebol da posse de bola, com deslocamentos, jogadores sem posição fixa e troca de lugar a todo instante.

É preciso todo cuidado do mundo agora para que a metralhadora não aponte para todos os lados. Ao contrário do que muitos irão dizer, ainda formamos bons jogadores. Mesmo para meias ou volantes com saída de jogo. Vejam o atual brasileiro sub-20. Tem muita gente boa, com talento, mas os ESQUEMAS DA MODA (como o 4-2-3-1 por exemplo), associados a uma ideia de futebol mediocre por parte de muitos treinadores, destroem a possibilidade desse talento crescer e, consequentemente, se afirmar.

Um pragmatismo cínico, cada dia mais incorporado em nossas vidas responde muito por isso, não só no âmbito do futebol, mas em todas as esferas. No torcedor, o qual se omite e se exime da obrigação de tentar ver se a seleção ou seu time estão jogando bem, aceitando acriticamente o discurso cínico dos “professores”, que ironizam os que “querem ver espetáculo, que deveriam ir ao teatro”. Nesse falso dilema entre competição Vs. espetáculo, perdeu-se o óbvio: a questão não é dar espetáculo, é JOGAR BEM, sempre o caminho mais indicado para a vitória. Jogando bem, forçosamente o tal espetáculo vem, mais isso é outra história.

Numa zona de conforto de salários astronômicos, nivelados com os maiores treinadores da Europa, referendados por cartolas mais preocupados em outras coisas do que na responsabilidade de ver seu time JOGAR BEM, nossos professores, em sua maioria, inundam seus times com 32 volantes cabeçudos, 88 zagueiros, contra-ataques e bolas paradas como arma maior. É o tal pragmatismo cínico que nos assolou e vai mudando nossa história.

O mesmo pragmatismo cínico que vi após a vitória do Barcelona dito tranquilamente na televisão em uma análise. “O jogo de hoje provou que precisamos repensar os conceitos de nosso futebol”. Dito por gente que há um ano atrás defendia com voracidade o pragmatismo de Dunga ou do Parreira, por exemplo. Ora, das duas uma: ou você defende que se repensem conceitos depois de ver o Barça da posse de bola, da troca de passes e dos deslocamentos de jogadores sem posição fixa, ou você defendia vorazmente o modelo de Dunga, a antítese do Barcelona. Contra-ataque, bola parada, volantões fixos, meias pouco criativos…

A calma que o momento pede não pode permitir também o ressurgimento do complexo de vira-latas, ou querer ver isso aqui ou acolá. Achar que nos curvamos ainda no túnel (o que não houve), que isso ou aquilo, teorias que sempre surgem quando o Brasil perde, vindas geralmente de nossas classes dirigentes e das elites, que assim, jogando a culpa na raia miúda, se exime de suas trapalhadas e responsabilidades.

Estamos falando de um país capaz de uma das mais assombrosas transformações da história da humanidade: em meio século, passamos de um país estruturado somente no setor primário e subdesenvolvido para um país com assento entre as potências econômicas, o país onde o futuro chegou antes do que se esperava. Falta muito ainda!!! Divisão de renda, educação, mas a transformação foi assombrosa, a ser contada um dia nos livros de história. E de mais a mais, quando Baggio olhou Romário na Copa de 94 no túnel, ninguém elaborou teorias diminuindo o povo italiano. É preciso manter o foco na floresta, e não se distrair com o dedo que aponta a árvore…

A lição irá desgraçadamente se esvair. Basta ver as palavras de Mano Menezes depois do jogo em seu blog. No lugar da urgente autocrítica, o único culpado nominado foi… a crítica. “Aqui, nossos críticos ainda estão rotulando uma equipe de ofensiva ou defensiva pelo número de atacantes ou volantes que o seu técnico escala na formação inicial, e isso passa para o torcedor”. Então tá, a culpa é da crítica, que tem lá as suas, mas essa não, mano velho…Técnicos, assim como seu chefe na CBF, CAGAM e andam para a crítica. Então olhe para o espelho e vamos aproveitar o momento para ver os próprios erros.

Falando no seu chefe, alguém imagina o déspota Teixeira acordando no domingo, às 8h30min, vendo o jogo, a aula do Barça e depois ligando pro Mano, trocando ideias de futebol, falando da necessidade de reformularmos as coisas, novos conceitos, ou melhor, resgatar antigos conceitos, como disse Guardiola? Podemos explicar parte de nossos problemas por aí, não é, Professor?

A calma que pedimos para analisar o que se passa por aqui é providencial para falarmos do Barcelona. Um senhor time de futebol que já entrou para a história. Um privilégio ver isso acontecendo em nosso tempo. Assim como o mandatário da CBF, eu não acordei para assistir ao jogo às 8h30min, mas vi o tape e parte do jogo com o meu velho Paulo Roberto, logo após o tradicional churras do domingo. Lembro que enquanto assistíamos o vídeo tape, trocávamos olhares e dávamos risadas do que víamos… Impressionante a forma e a facilidade de como o jogo do Barça era imposto para desespero do jogadores do Santos e do Muricy.

Sem dúvida, um belíssimo trabalho na base do clube, mas é só!!! E isso é muita coisa, muita coisa mesmo!!! É que temos também a mania, hipócrita e fruto também do cinismo, de querer que coisas do futebol, do campo, dos atletas, se transformem em “exemplos para a sociedade”. E o cinismo das pessoas e muitas vezes a inocência de outras geralmente embarca nessa.

Assim, passivamente vamos aceitando idealizações, sem respaldo na verdade. Ao Barcelona basta, e já nos dá demais, sendo um time espetacular de futebol, protagonista de uma revolução nas quatro linhas. Quando nos deixamos levar por idealizações, mundos perfeitos, exigir que homens se transformem em modelos, negligenciamos a verdade que não é tão aparente, nos deixamos levar por manipulações. O Barça, (suas categorias de base, seus princípios, seus atletas), não é modelo a ser seguido pela sociedade, como já se escuta aqui e ali, principalmente quando começam a mergulhar na busca das razões para o sucesso do time catalão.

Na presidência, está Sandro Rosell, amigo íntimo de Ricardo Teixeira, que vive em acusações mútuas também com seu antecessor. O homem que levou o patrocínio da Fundação Catar para o uniforme azul-grená. Uma figura que gerou e alimenta Sandro Rosell está longe de ser o modelo de sociedade que sonhamos. Um Barça que busca meninos talentosos na África ou América, ao arrepio da lei do artigo 19 da Fifa, um Barça com todos os pecados do mundo do futebol, e dificilmente seria diferente, sendo ele parte disso tudo. Um Barça que fez uma revolução nos campos, e isso, repito, é muita coisa. Isso diz respeito ao jogo que veneramos, e portanto a nossas vidas. Mas lá como aqui, devemos rejeitar idealizações. Digo, porque começo a ver isso se repetir toda hora.

Mas tal fato é o menos importante aqui e agora. O importante é buscar o elo perdido, que é nossa sobrevivência como brasileiros, mestiços, cafuzos, mamelucos, capoeiras, Manés, Pelés, moleques. Aqueles que os avós do Guardiola contaram um dia ao menino. Algo que se perdeu no tal pragmatismo cínico aqui tratado, exemplificado nos nossos “professores”, cartolas, imprensa boba e com os vícios de sempre, adepta do jornalismo de resultado, das arquibancadas cada dia mais gélidas e cínicas também, elitizadas sem o crioulo sem dente que botava água no feijão para levar seu amor incondicional ao estádio, substituído a cada dia pelo almofadinha que não conhece a derrota na vida. É ele que legitima esse modelo cínico da vitória a qualquer custo que vai nos matando em essência, conteúdo e forma, até sermos cobrados por um técnico estrangeiro em coletiva.

Abraços

Dakir Larara


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Curso de Geografia da Ulbra foi ao Itaimbezinho e a Torres!

O Curso de Geografia da Universidade Luterana do Brasil foi, neste último final de semana (3 e 4 de DEZ/2011), ao Itaimbezinho e a Torres. Sob a orientação dos Professores Rafael Lacerda Martins, Jussara Sommer e Dakir Larara, os alunos puderam conhecer um pouco mais sobre o processo de formação e dinâmica atual de dois dos lugares mais bonitos da paisagem gaúcha e brasileira: o Cânion Itaimbezinho e a praia de Torres. Temáticas ligadas à dinâmica geológica e geomorfológica, questões biogeográficas e ecológicas, além dos processos econômicos e socias das respectivas regiões, foram constantemente abordadas ao longo das falas dos professores.

As saídas de campo conjuntas, além das específicas de algumas disciplinas do Curso realizadas regularmente, estão se tornando uma praxe nos últimos dois anos na Geografia da Ulbra. Essa saída, em especial, foi diferenciada, pois contou com a presença de alunos iniciantes, bem como com alunos que estão numa fase intermediária ou com aqueles que já se encontram no final das suas graduações.

Praia da Guarita em Torres

Momentos como esses são essenciais para ampliarmos o nosso conhecimento geográfico sobre os processos ambientais e socias do estado do RS, além de aproximar ainda mais alunos e professores da comunidade geográfica da Universidade Luterana do Brasil.

Professores e alunos do Curso de Geografia da Ulbra no Itaimbezinho.

Abraços

Dakir Larara