Blog do Daka

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Parabéns a todos os goleiros!

Como um bom guapo peladeiro que sou, não poderia deixar de homenagear a minha posição dentro das quatro linhas: a de número 1!!! O Dia do Goleiro foi instituído no Brasil exatamente no primeiro momento em que houve preparação de goleiros especializada: durante a Copa do Mundo de 1974, quando o Tenente Raul Carlesso fez parte da Comissão Técnica como Preparador. Juntamente com o Capitão Reginaldo Pontes Bielinski, o Tenente Raul Carlesso criou esta data em 1975. Contudo, ela foi introduzida no calendário nacional no dia 26 de abril de 1976 em homenagem ao lendário goleiro Aílton Corrêa Arruda, o Manga, em alusão ao seu aniversário. Parabéns a todos os goleiros, profissionais e peladeiros de todo mundo. Seguem algumas palavras sobre a melhor posição de todas. Espero que gostem!

O lendário goleiro Manga!! Um monstro na posição.

Tu já ouviu alguém falar sobre o dia do centroavante? Ou no dia do zagueiro? Talvez, no dia do técnico? Pode até ser que haja um dia específico para cada um desses personagens do futebol, mas sem dúvida, nenhum deles é tão comemorado e especial como o Dia do Goleiro.

Neste 26 de Abril celebramos uma escolha que fizemos em algum momento da nossa infância, ou até mesmo da juventude ou fase adulta. A decisão de que seríamos o número 1. O “Ser” da camiseta diferente a quem quase tudo é permitido dentro de um campo de futebol. O único entre onze, sete ou cinco que pode agarrar a bola como se fosse filha e tratá-la com carinho enquanto outros 10, 6 e 4 do time a maltratam, seja chutando ou cabeceando a gorduchinha.

Cláudio André Taffarel. Uma das minhas referências na posição.

Ser goleiro é algo de que poucos se arrependem… Talvez ninguém. É aceitar ser só, com um gosto de poder ter a chave do cofre nas mãos. É gostar de assumir a responsabilidade por guardar o tesouro. Ser goleiro é ser herói e vilão. É querer evitar o inevitável sempre achando, lá no fundo, que dava pra defender o mais indefensável dos chutes. É jogar um jogo coletivo de forma quase individual e depois de uma grande defesa, ainda que não te agradeçam, saber lá no teu íntimo que você é tão importante quanto o atacante. É saber dizer, que falhas fazem parte, pois só quem joga lá sob as traves, sabe o quanto defesas que parecem fáceis, podem ser bem mais difíceis do que se espera. Enfim, ser goleiro é ser o coração do time e ter a coragem de impedir o principal e fundamental objetivo do futebol: o GOL!

Por essas e outras tantas razões, temos sim que nos parabenizar por esse dia especial, o dia 26 de abril. Parabéns a todos aqueles que são goleiros ou estão envolvidos com essa fundamental posição nesse imenso Brasil. Que todos continuem alimentando esse sonho inexplicável que é ser o guardião do paraíso.

Vincent Enyeama, goleiro da seleção da Nigéria e atual goleiro do Lille da França.

Abraços

Dakir Larara


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Um goleiro entrou para a História, por Joel Rufino dos Santos

Gostei do texto e da reflexão do historiador Joel Rufino dos Santos. Vale a leitura!

Quando, meses atrás, ocorreu com o Tinga, achamos que não se repetiria, era imitação das torcidas europeias. Dado novo é que o racismo brasileiro parece ter perdido a vergonha.

Anos 70. Um amigo meu assistia a um Flamengo x Grêmio. Toda vez que Cláudio Adão perdia um gol — e foram vários —, um sujeitinho se levantava para berrar: “Crioulo burro! Sai daí, ô macaco!” Meu amigo engolia em seco. Até que Carpegiani perdeu uma chance “debaixo dos paus”. Meu amigo se desforrou: “Aí, branco burro! Branco tapado!” Instalou-se um denso mal-estar naquele setor das cadeiras — o único preto ali era o meu amigo. Passado um instante, o sujeitinho não se conteve: “Olha aqui, garotão, você levou a mal aquilo. Não sou racista, sou oficial do Exército.” Meu amigo, aparentando naturalidade, encerrou a conversa: “E eu não sou.”

Jogo correndo, toda vez que Paulo César Caju perdia uma bola, um solitário torcedor do Grêmio, fileiras atrás, amaldiçoava: “Crioulo sem-vergonha! Foi a maior mancada o Grêmio comprar esse fresco…” Meu amigo virou-se então para o primeiro sujeito e avisou: “Olha, tem um outro oficial do Exército aí atrás…”

Quando, meses atrás, ocorreu com o Tinga, achamos que a cena não se repetiria, era imitação das torcidas europeias.

O dado novo é que o racismo brasileiro parece ter perdido a vergonha. Nelson Rodrigues, quando os críticos caíram em cima de “Anjo negro”, de 1957, disse que a escreveu para mostrar que nós, os brasileiros, não gostamos de pretos. Qual a obrigação de gostar de preto, ou de branco, ou de chinês, ou de selenitas se eles aparecerem um dia? Moralmente, nenhuma. As subjetividades se formam por movimentos simultâneos de identidade e alteridade. Os brasileiros, sendo humanos, têm o mesmo problema de origem: o outro. O preto, aqui, é um dos outros do branco e vice-versa. Ocorre que as relações entre esses outros se deram num quadro histórico dado: a construção tardia da nação. É a razão mais geral que encontro para explicar a meus filhos e netos a frase de Nelson Rodrigues: o brasileiro não gosta de pretos. Não devem sofrer por isso, nem sentirem culpa por, eventualmente, não gostar de japas, de paraíbas, de alemães etc. A materialidade desse gostar-não-gostar, dessa atração-rejeição se encontra na formação histórica do país.

Sim, porque a atração está contida na rejeição. É quase certo que quem chama o seu outro de macaco (quer dizer, animalesco, fedorento, perigoso) é isso mesmo que queria: fazer amor animal, sentir-lhe o odor, correr o risco de gozar com ele. A histérica torcedora flagrada “dando espetáculo”tem um codinome, é a Virgínia de “Anjo negro”; Aranha é o Ismael: o amor-ódio que os une não terá fim neste mundo.

Outro escritor “reacionário”, Guimarães Rosa, desceu também à profundidade do racismo, às suas fossas submersas. Soropita, ex-jagunço, volta para casa prelibando o reencontro com a mulher. Ela fora puta em Montes Claros, ele a desposara, e se esconderam num canto das Gerais. A certa altura, Soropita emparelha com um bando a que pertencera, vão na mesma direção. Conversam de façanhas, de lembranças miúdas. No bando, há um preto, Iládio. O imaginário de Soropita se excita: e se Iládio se deitou, com seu membrão, com Doralda? O horror cresce, chegam ao ponto em que vão se separar, em frente à casa de Soropita, onde o espera Doralda, branca e cheirosa. Surpreendendo a todos, Soropita aponta a arma para Iládio e exige que ele se ajoelhe e peça perdão. Ninguém sabe por quê, nem o próprio Iládio, nem Soropita. “Tu, preto, atrás de pobre de mulher, cheiro de macaco…” Iládio se ajoelha chorando: “Tomo benção… tomo benção.”

Aranha não tomou bênção, saiu da sexualidade para entrar na História.

Joel Rufino dos Santos é historiador

Leia a matéria completa em: Um goleiro entrou para a História, por Joel Rufino dos Santos – Portal Geledés


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O racismo banalizado

Excelente texto do Vice-Presidente do Sport Club Internacional, Roberto Siegmann, sobre o fato imperdoável e profundamente lamentável de racismo, que ocorreu no último Gre-Nal no estádio Olímpico, por parte de uma minoria estúpida e doente da torcida do Grêmio contra o cidadão e atleta do já referido clube, Zé Roberto. Leiam, pois vale muito a pena!!

Por Roberto Siegmann

Um dos aspectos mais repugnantes da humanidade é o racismo. Foi  o responsável pelas mais absurdas passagens da história do homem: escravidão, preconceito nos Estados Unidos e na África do Sul, entre tantos outros episódios nefastos. Milhares de pessoas foram tratadas como sub-humanas em razão da cor da pele. Claro que há outros preconceitos que devem ser combatidos e repudiados, mas esse é o mais abjeto, pois decorre de uma questão genética.

Domingo passado, quando o Internacional pela 40ª vez sagrou-se Campeão Gaúcho, assisti perplexo a uma cena primitiva. Torcedores das cadeiras e sociais do Estádio Olímpico gritavam “macaco…. macaco…”, enquanto o atleta Zé Roberto aquecia para entrar em campo. Quando o jogador entrou em campo, dando um verdadeiro show de bola, lembrei logo daquele episódio nos Jogos Olímpicos de 1936, quando em plena Alemanha nazista, Hitler desfez do atleta americano negro Jesse Owens. Pois mesmo contra tudo e contra todos, Owens venceu quatro medalhas olímpicas deixando irado o ditador germânico. Naquela época os fundamentos ideológicos repousavam na idéia racial de que havia uma raça ariana superior às demais.De volta à nossa realidade e ao episódio com Zé Roberto, apenas algumas manifestações de narradores, repórteres e comentaristas noticiaram o fato no Estádio Olímpico. Mas, com todo o respeito a eles, nada além disso. Da mesma forma, os procuradores do TJD, órgão administrativo da FGF, nada fizeram. Repito: o fato foi público e notório. Parece que a FGF está mais preocupada com palavrões e ilações absurdas para noticiar aos seus procuradores do que com um fato que é criminoso e odioso.
Imediatamente, vendo a reação do nosso jogador, tomei as providências cabíveis para noticiar com provas o ocorrido ao presidente da FGF. Soube hoje que a Segunda Delegacia de Polícia Civil instaurou inquérito para investigação do fato. Enquanto isso, meu Twitter foi invadido uma vez mais por racistas, neonazistas e jovens arrogantes que se postam como se integrassem uma elite inimputável. Um absurdo.Amanhã mesmo vou abastecer meu requerimento e a delegada responsável com mais provas, inclusive manifestações da Internet. Algumas questões, todavia, ficam sem resposta: Onde estão os movimentos de defesa da igualdade racial? Onde está o Ministério Público? O que fará o TJD para punir a agremiação pelo ato de seus sócios? Por que a imprensa não repudia com veemência o ocorrido? Por que as empresas de comunicação não lançam campanha contra isso?Tenho orgulho de ser gaúcho, mas não há dúvidas de que o nosso estado convive com uma banalização do racismo. Já vi manifestações racistas até mesmo nas cadeiras do Beira-Rio. Algo tem que ser feito. Um cidadão que assiste a uma manifestação racista deveria chamar um policial, denunciar e exigir a prisão em flagrante do ofensor.
Peço desculpas ao Zé Roberto por tudo que tem ocorrido com ele nessa cidade e nesse estado. Infelizmente temos uma elite burra e que muitas vezes não tolera ver um negro em evidência. De qualquer maneira, isto tem que mudar um dia. Não podemos tolerar esta banalização do racismo. E que atos como o do último domingo sejam denunciados e combatidos sempre.