Blog do Daka

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Belo Monte – UFPA revisa número de atingidos por inundações para mais!!!

Estudos feitos por contratada da Norte Energia diziam que alagamento atingirá 16,4 mil pessoas na zona urbana de Altamira, mas pesquisa que adotou apenas referências aprovadas pelo IBGE indica que número de atingidos será de 25,4 mil moradores

O número de moradores de Altamira que serão impactados diretamente pela inundação do lago da usina hidrelétrica de Belo Monte poderá ser 55% maior que o registrado nos estudos de impactos ambientais do projeto, concluiu pesquisa feita pelo Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (UFPA). O levantamento, feito a pedido do Ministério Público Federal (MPF), aponta que o total de pessoas atingidas será de 25,4 mil moradores, e não de 16,4 mil, conforme previsão registrada no relatório de impactos ambientais do projeto.

A discrepância entre os resultados é causada, em resumo, porque os cálculos foram feitos a partir de referências diferentes. Enquanto a UFPA se baseou apenas em um marco topográfico homologado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a equipe contratada pela Norte Energia S.A (Nesa) adotou uma série de outros pontos topográficos que estão desatualizados ou que não são do IBGE. Além disso, esses diversos pontos, tecnicamente chamados de Referências de Nível, não estão ligados entre si.

O ponto do IBGE utilizado nas medições feitas pela UFPA, que fica no 51º Batalhão de Infantaria de Selva, em Altamira, foi estabelecido a partir de medidas de 2009. Já alguns dos pontos do IBGE que a contratada da Nesa alega ter utilizado foram medidos em 1976. Por terem sido estabelecidos a partir de critérios técnicos não mais utilizados no país, o próprio IBGE alerta que tais pontos não são muito precisos. Além de utilizar referências ultrapassadas, a equipe contratada pela construtora de Belo Monte também fez medições com base em pontos que não são do IBGE, e sim da Companhia de Habitação do Estado do Pará (Cohab/PA). O problema técnico criado pode ter sido causado, portanto, pelo uso de Referências de Nível heterogêneas, de fontes e épocas diferentes.

Essas duas formas de medir a altura máxima que o lago pode chegar na cidade de Altamira levaram a duas previsões diferentes. Para a UFPA, o nível de segurança de 100 metros abaixo do qual todos os moradores terão que ser retirados pode estar 90 centímetros acima do que calcularam os técnicos e empresas contratados  pela Norte Energia.

Referência internacional – Segundo os relatórios assinados pelos professores de engenharia da UFPA André Augusto Montenegro, Júlio César Aguiar, Evelyn Carvalho e Myrian Cardoso e ainda pela professora da Universidade da Amazônia Andreia Conduru Cardoso, o ponto adotado por eles na pesquisa (chamado tecnicamente de estação geodésica 99510 ou PAAT) é um marco oficial homologado pelo IBGE como referência internacional e estabelecido “dentro das mais modernas metodologias e técnicas, através de equipamentos altamente sofisticados, por equipe de profissionais de formação sólida e altíssima qualidade do IBGE”.

Em contrapartida, representantes da Nesa afirmaram em audiência pública realizada no final de 2011 na cidade de Altamira, que a referência internacional adotada pela UFPA é que é inadequada, errada em sua altura. A Nesa afirmou na ocasião que por causa do erro do IBGE, o cálculo da UFPA é que estaria incorreto. Para que a questão não fique apenas no plano teórico e a controvérsia seja resolvida antes que efetivamente as águas alcancem suas alturas máximas após a construção da barragem, produzindo danos irreparáveis, o relatório da UFPA propõe que a Nesa promova a realização de um estudo transparente e acompanhado pela sociedade.

“Trabalho que poderá ou deverá ser realizado por uma empresa ou em um projeto específico contratado pela Nesa, mas que adote referências confiáveis e seguras, sob o controle da sociedade civil que, em última análise, é quem efetivamente será impactada ou penalizada”, sugere a UFPA, em função dos altos custos que o referido trabalho demanda.

Entenda o caso:

  • Duas equipes técnicas (uma contratada pela construtora da hidrelétrica e outra da UFPA, convidada pelo MPF) utilizaram formas diferentes de calcular a altura que o lago de Belo Monte pode atingir em Altamira na máxima cheia, altura que determina também quantos e quais moradores perderão suas casas.
  • O MPF fez a solicitação de uma medição independente da cota de segurança para alagamentos diante do histórico das usinas hidrelétricas na região amazônica. Em todas houve erros graves na previsão de alagamento.
  • A UFPA diz que o lago pode chegar a um nível cerca de 90 centímetros mais alto que o nível calculado pelos pesquisadores contratados pela Norte Energia.
  • Em vez de impactar 16,4 mil pessoas, conforme cálculo dos contratados da Norte Energia, o lago inundaria uma área onde vivem 25,4 mil pessoas, segundo avaliação da UFPA.
  • Cada uma das equipes de pesquisadores defende suas conclusões dizendo que a referência ou base de cálculo utilizada pela outra equipe não é a mais adequada.
  • Para solucionar as dúvidas, o relatório da UFPA propõe que a Nesa invista em um trabalho aprofundado, rigoroso e independente, talvez a ser desenvolvido sob a tutoria ou fiscalização técnica do próprio IBGE, trabalho que possa ser acompanhado e avaliado pela sociedade. A proposta tem o apoio do MPF.

Veja na íntegra os estudos da UFPA:

* Relatório de 2012

* Relatório de 2011

* Relatório de 2010

Abraços

Dakir Larara


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Reservatórios de hidrelétricas são ambientalmente benignos, dizem cientistas.

Gases do clima

Um novo estudo feito por uma equipe internacional de cientistas pode ajudar a recuperar a imagem que tem sido atribuída nos últimos anos aos reservatórios das usinas hidrelétricas. As suspeitas começaram a ser levantadas há cerca de 10 anos, quando medições feitas em uma hidrelétrica brasileira indicaram que as emissões de CO2 e metano – chamados pelos cientistas de “gases do clima” – dos organismos em decomposição no fundo dos reservatórios poderiam ser responsáveis por até um quarto de todas as emissões de origem humana no planeta.

Agora, demonstrando o risco de se basear em estudos individuais, os cientistas descobriram que os organismos na água e no chão do reservatório capturam mais CO2 da atmosfera do que o próprio reservatório libera na forma de gases de efeito estufa, já convertidos em equivalentes de CO2.

A vitalidade do ecossistema do reservatório e o volume de sedimentos não consolidados que enterram os organismos mortos determinam se o equilíbrio dos gases climáticos ficará positivo ou negativo ao longo da vida útil de cada reservatório.[Imagem: EDF]

Conclusões errôneas

Os dados do Brasil foram publicados pela respeitada Comissão Mundial de Barragens. O relatório concluiu que os reservatórios das hidrelétricas de todo o mundo seriam responsáveis por entre 1 e 28 por cento das emissões dos gases climáticos do planeta.

O novo estudo foi feito por pesquisadores do instituto europeu SINTEF, com base em dados coletados no Laos em represas com 10 e com 30 anos de idade. “Nossos resultados no Laos indicam que o número real é muito mais próximo de 1 do que de 28 por cento. As medições no Brasil não levaram em conta a absorção de CO2 pelo ecossistema do reservatório. Entretanto, os resultados atraíram muita atenção e foram usados para tirar conclusões errôneas em nível global,” afirma Atle Harby, cientista sênior do programa de Pesquisas Energéticas do SINTEF.

O ecossistema decide

Os gases climáticos liberados por um reservatório de hidrelétrica se originam do carbono proveniente da decomposição de organismos e matérias orgânicas anteriores à inundação e daqueles trazidos pelos rios ou por fontes humanas. No entanto, ao mesmo tempo, as algas, o fitoplâncton, o zooplâncton e os peixes que vivem no reservatório passam a absorver CO2 da atmosfera.

“Os níveis de emissões são maiores no início [da vida da represa], mas declinam quando os organismos enterrados estão totalmente decompostos. Nós investigamos também um reservatório de dez anos de idade, no Laos, onde havia um equilíbrio entre a absorção de gás e a liberação,” diz Harby.

Ele explica que a vitalidade do ecossistema do reservatório e o volume de sedimentos não consolidados que enterram os organismos mortos determinam se o equilíbrio dos gases climáticos ficará positivo ou negativo ao longo da vida útil de cada reservatório.

“As rochas, o solo e a qualidade da água no reservatório de 30 anos de idade se combinaram para promover uma produção orgânica muito prolífica, a grande responsável pela absorção elevada de CO2 da atmosfera,” disse Harby.