Blog do Daka

Um espaço para compartilhar informações e estimular a reflexão.

Nova Classificação Climática para o Rio Grande do Sul saiu do forno – por Maíra Rossato

20 Comentários

Recentemente aprovada com louvor no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRGS, a tese intitulada “Os Climas do Rio Grande do Sul: variabilidade, tendências e tipologia” de autoria de Maíra Suertegaray Rossato apresenta, através de dados atualizados (1970-2007), o quadro climático do Estado a partir de uma nova classificação para os climas do RS.

Esta tese centrou-se no estudo analítico do clima do estado do Rio Grande do Sul (Brasil), com foco na variabilidade (espaço-temporal) dos elementos climáticos-meteorológicos e na abordagem de suas tendências. Associa-se a esta análise, o reconhecimento das variabilidades climáticas em escala regional para o período de 1931-2007, através da comparação das médias do período analisado com as normais climatológicas de 1931-1960 e 1961-1990.

A partir desta construção, busca-se a atualização do conhecimento da climatologia relativa ao Rio Grande do Sul, sintetizada a partir da elaboração de uma classificação climática que incorpora o uso de novas metodologias e tecnologias.

O método de classificação climática desenvolvido contemplou análises qualitativas e quantitativas, tendo por base a integração entre os elementos do clima e a circulação atmosférica de superfície (dinâmica das massas de ar), articulados a técnicas estatísticas e geoestatísticas.

Comparando as normais climatológicas do estado

A análise da variabilidade dos elementos climáticos para o período entre 1931 e 2007 indica que as temperaturas mínimas se elevaram em muitos lugares do RS, levando a uma redução da amplitude térmica. Com isso, revela-se o aumento das temperaturas médias em até 0,5oC, particularmente em algumas localidades da metade centro-norte do estado, sendo este aumento maior no período de 1970-2007.

Percebe um aumento da precipitação até a normal de 1961-1990, mas em muitas partes do RS, como na porção oeste do estado, a média seguinte aponta redução nos totais mensais e anuais. Localidades situadas no leste e extremo norte do estado registraram elevação dos totais das chuvas, principalmente na primavera e verão no período de 1970-2007.

A variabilidade identificada entre as médias relacionam-se com alguns dos ciclos ligados a eventos de macroescala encontrados nas séries temporais. A variabilidade dos totais pluviométricos registrados na comparação de médias pode ser explicada por ciclos, como os de ENOS, por exemplo. Os ciclos decenais e quinzenais que foram identificados em várias séries, principalmente nas de temperatura, de insolação e de pressão atmosférica podem explicar a variabilidade das médias, embora não sejam explicitados nos seus valores finais.

Tendências para a temperatura e precipitação

A análise de tendências lineares e polinomiais indicou tendências estatisticamente pouco importantes, uma vez que os coeficientes de correlação encontrados variam de fracos a moderados.

De forma geral, nota-se reduzida tendência de diminuição da amplitude entre as temperaturas máximas e mínimas em localidades situadas em todos os compartimentos geomorfológicos do RS. Essa redução se explica, principalmente, pela maior elevação das mínimas em relação às máximas, como no sudoeste, centro e nordeste do Estado, indicando uma pequena, mas possível diminuição dos núcleos frios do estado.

Em relação à precipitação e umidade, não foram registrados aumentos importantes nos totais pluviométricos mensais e nem nos dias de precipitação mensais para os 38 anos estudados. Os totais pluviométricos anuais, contudo, ratificaram, através da tendência linear, a possível elevação dos valores de chuva ao ano com tendência de concentração. Isto porque os pontos em que se identificou maior tendência de aumento localizavam-se no setor centro-leste da Depressão Central estendendo-se sobre o Planalto Basáltico, Escudo Sul-riograndense e Litoral.

A análise da tendência polinomial, entretanto, aponta pontos do estado em que há redução nos totais anuais a partir do final dos anos de 1990 e início de 2000. Localidades na Depressão Central, no norte e centro do Planalto Basáltico, além do extremo sul do Litoral registram esse decréscimo. Os municípios do leste do Planalto Basáltico, do Escudo Sul-riograndense e do Litoral apresentaram aumento de seus totais anuais a partir dos anos de 1990.

Estas distribuições diferenciadas acentuam características já identificadas em algumas regiões de falta ou de excesso de umidade, intensificando diferenças regionais através da concentração de precipitação.

Os Climas do Rio Grande do Sul

Com relação ao regime climático, pode-se dizer que os sistemas polares são os grandes dinamizadores dos climas do estado, em interação com os sistemas tropicais. Entretanto, é a partir da relação destes com os fatores geográficos locais e regionais, que se define a variabilidade espacial dos elementos do clima. A gênese das chuvas está, principalmente, associada aos sistemas frontais.

Com relação à tipologia climática, o estado do Rio Grande do Sul situa-se em área de domínio do Clima subtropical, subdividido em quatro tipos principais (clique na figura abaixo para ampliar!!):

Subtropical I – Pouco Úmido (Subtropical Ia – Pouco Úmido com Inverno Frio e Verão Fresco, e Subtropical Ib – Pouco Úmido com Inverno Frio e Verão Quente);

Subtropical II: Medianamente Úmido com Variação Longitudinal das Temperaturas Médias;

Subtropical III: Úmido com Variação Longitudinal das Temperaturas Médias; e

Subtropical IV – Muito Úmido (Subtropical IVa – Muito Úmido com Inverno Fresco e Verão Quente, e Subtropical IVb – Muito Úmido com Inverno Frio e Verão Fresco).

O Rio Grande do Sul apresenta regiões climaticamente bem diferenciadas, evidenciando certa heterogeneidade, ao contrário de grande parte das classificações climáticas mais conhecidas do estado.

Esse mapeamento climático revela dados interessantes, na medida em que evidencia distribuição espacial desigual das chuvas, permitindo observar, por exemplo, uma menor umidade em parte da região denominada Campanha no RS (reverso da Cuesta do Haedo), resultado da distribuição irregular que em determinados anos se releva em períodos com anomalias negativas de precipitação constatados pela população e amplamente divulgados pelos meios de comunicação.

Da mesma forma este processo se revela importante na decifração das características do clima do sul do estado permitindo uma melhor compreensão das anomalias negativas da precipitação na região de Bagé e seu entorno, no Escudo Sul-riograndense. Anomalias que se revelam também no litoral sul e que tem sua gênese associada à influência da corrente fria das Malvinas que promove mais estabilidade.

Outro ponto significativo é o papel do processo de urbanização do leste do estado revelador de uma área de temperaturas médias mais altas, mesmo tendo esta área influência da maritimidade.

É importante mencionar que esta tese traz como resultado uma classificação climática em escala regional para um período recente que inovou ao incluir na metodologia analises quantitativas e qualitativas em diferentes escalas temporais e que procura apresentar de forma simples e direta as características importantes de diferentes porções do estado. Isso fez com que os quatro tipos e dois subtipos climáticos sejam bem representativos do RS.

Autor: Dakir Larara

Geógrafo, Professor universitário e pai das lindas Dandara e Anahí.

20 pensamentos sobre “Nova Classificação Climática para o Rio Grande do Sul saiu do forno – por Maíra Rossato

  1. Daka e Maíra parabéns pela matéria e iniciativa.beijo grande da mãe, Dirce

  2. Parabéns pela tese. Gostaria muito de assistir uma apresentação. Vai ter alguma?
    O assunto é importante e interessante para toda a comunidade científica, não só da geografia.

  3. Parabéns mestre Daka a organização do blog está impecável!

  4. Olá, Dakir e Maíra, boa noite.

    Parabéns pelo belo trabalho, que apresenta uma proposta que parece muito mais conectada com o mundo de todos os dias do que as tradicionalmente usadas para a questão de descrição e caracterização climática (Köppen, principalmente).
    Citei o trabalho como referência, no PGDR/UFRGS e todo mundo ficou super interessado.
    Pergunto como citar a tese – está em publicação? E o mapa que aparece no blog, poderia utilizá-lo da maneira como está no blog, ou teria algo mais adequado para a inserção em um texto?
    Agradeço desde já a dica, um abraço!
    Claudia Ribeiro

    • Olá Cláudia, fico feliz que tenhas gostado do trabalho. Quanto mais utilizado e divulgado melhor! A Tese deve sair no banco de teses da UFRGS logo, só não saiu ainda por conta da greve dos funcionários. Podes citar a tese como referencia ROSSATO, MAIRA SUERTEGARAY. Os climas do Rio Grande do Sul: variabilidade, tendências e tipologia. 240f. Tese (doutorado). Programa de Pós-Graduação Geografia, Instituto de Geociências, UFRGS. Porto Alegre, 2011. Podes utilizar o mapa do blog, pois é como está na tese, mas como referência cita a tese. Meu mail para outros contatos é msuerte@terra.com.br
      Abraço Maíra

  5. Pingback: Tese de doutorado que reclassifica o clima do RS está disponível!! « Blog do Daka

  6. Olá Professor!
    Parabéns ao senhor e à sua esposa por este belo post, que enriquece os conteúdos sobre o clima no RS.
    Por gentileza, posso colocar algumas das informações, com a devida referência, no meu site?
    Outra dica: gostaria por gentileza de pedir, se não for nenhum incômodo, de colocar o link para o Panorama Lavrense no seu blog, no menu dos links. Eu agradeceria muito e seria uma grande honra ter o acesso pro meu site neste blog tão qualificado e tão bem produzido como este.
    Um forte abraço!
    Murilo de Carvalho Góes

    • Olá Murilo!! Obrigado pela tua participação. Pode deixar que colocarei o link do teu blog na minha lista de sites recomendados. Pode usar sim as informações do trabalho da Maíra, sem problemas.
      Abração e T+!

  7. Oi Dakir. Hj descobri o teu blog, embora já sabia pq os alunos comentavam comigo. Continuo tendo alunos que te conhecem e, as vezes, tenho notícias tuas.
    Grande abraço,
    Ademir

    • Olá Ademir!! Legal que tenhas conhecido o blog!! Ele anda meio desatualizado, pois em função do nascimento da Anahí (chegou no dia 20 de março), tô meio sem tempo de postar coisas novas. Mas em breve vou colocar algumas coisas quentinhas e aguardarei a tua participação, bem como dos teus alunos. Grande abraço e a gente se fala na sequência meu amigo.

  8. Pingback: Panorama Lavrense | NOSSO MUNICÍPIO: Clima em Lavras do Sul

  9. Pingback: Blog Panorama Lavrense | NOSSO MUNICÍPIO: Clima em Lavras do Sul

  10. Pingback: NOSSO MUNICÍPIO: Clima em Lavras do Sul | Panorama Lavrense

  11. Pingback: NOSSO MUNICÍPIO: Clima em Lavras do Sul

  12. Pingback: NOSSO MUNICÍPIO: Clima em Lavras do Sul – Panorama Lavrense

  13. Onde consigo um de Santa Catarina? Muito bom esse aí.

    • Tens de pesquisar. Esse trabalho que postei é uma tese de doutorado. Não sei se existe algo similar para Santa Catarina. Grande abraço e obrigado por participar do blog.

Deixe um comentário